Um Homem Escandaloso

(Carla ScalaEjcveS) #1

Já sentada no seu lugar na carruagem, com as palavras do pai a ressoarem-lhe na cabeça, Carol
sentiu um frenesim no peito, um misto de medo e excitação, mas declarou solenemente a si própria
que, acontecesse o que acontecesse, nunca haveria de desistir. Levava no colo a máquina fotográfica
que o pai lhe dera de presente, apesar dos protestos dela. Aquela máquina tinha sido, provavelmente,
o único luxo que ele se permitira em toda a sua vida, e agora oferecera à filha o seu tesouro.
Encolhera os ombros e dissera-lhe:
«Eu já não a uso e a ti dá-te gosto.»


O pai de Carol compreendia o que se passava em casa e, embora gostasse igualmente das duas
filhas, procurara compensar Carol da atitude distante da mulher em relação a ela. Tanto mais que a
mulher também só costumava ter palavras azedas para ele. Ela depositava todas as esperanças na
filha mais velha, que, esperava, haveria de concretizar o seu belo sonho de ser mãe de uma médica.
Mãe de uma médica, de uma senhora doutora, podia-se imaginar uma coisa assim, tão importante?!
Quem sabia se, mais tarde, a filha não lhe compraria uma casinha nova, já que o inútil do marido
nunca teria dinheiro para isso, ou até talvez mandasse construir uma de raiz: a maior casa da aldeia!
Dava que pensar. Por isso se concentrou na filha mais velha — a mais nova era um empecilho, nunca
a quisera e destruíra-lhe a saúde — e, consequentemente, acabou por criar uma divisão na família: a
aliança delas contra a solidariedade deles.

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