Um Homem Escandaloso

(Carla ScalaEjcveS) #1

na sua, pousou-a no chão. Trouxe também um frasquinho de verniz.
— Não se importa que pinte as unhas?
— À vontade — respondeu ele, bebendo a cerveja pelo gargalo.
Cristiane levantou-se outra vez para ir buscar um candeeiro de pé. A tarde fenecia, a luz murchava,
espalhando uma doce nostalgia pela sala obscurecida.
— Não se vê nada — disse, acendendo o candeeiro que fazia um arco desde o chão, de modo que
o abajur pendia por cima da sua cabeça, derramando sobre ela uma luz macia que realçava a nobreza
do seu cabelo dourado. Ficaram assim isolados nessa acolhedora ilha luminosa no meio da larga sala
onde caíra uma profunda escuridão. A noite chegara.


Cristiane dobrou a perna, pousando o tornozelo no joelho da outra com uma facilidade elástica.
Abriu o frasco, retirou o pequeno pincel com a ponta vermelha do verniz e pôs-se a pintar as unhas
do pé enquanto falava num tom distraído, concentrada no que fazia. João Pedro observava Cristiane,
extasiado com todo aquele ambiente muito informal que lhe parecia já de enorme proximidade, de
grande intimidade. A certa altura, ela perguntou-lhe o que achava da cor que aplicava nas unhas.
— Acho bem — respondeu, pois, sendo-lhe indiferente, não quis ser desagradável.
— Eu gosto — disse Cristiane, admirando o pé com metade das unhas vermelhas, a outra metade
ainda ao natural. — Bem sei que não é o mesmo que pintar quadros — gracejou.
Ele riu-se, encantado, achando um graçalhão às piadas dela, por mais fracas que fossem. Notou que
Cristiane tinha pés pequenos, bonitos. Porém, a atenção de João Pedro desviou-se quando Cristiane
se inclinou para a frente e a camisa, muito aberta, revelou tudo. Ficou mudo, embaraçado, desviou os
olhos. Mas logo teve de olhar outra vez, atraído por aquela visão dos seios dela à solta dentro da
camisa, hipnotizado, excitado. Engoliu em seco, perturbado, sentindo-se corar novamente.
Cristiane fazia de propósito, evidentemente, sabia que João Pedro lhe espreitava o decote
disfarçadamente. Mas ele era demasiado óbvio e ela divertia-se a provocá-lo, fingindo-se inocente.
Deixou-o olhar à vontade durante uns largos segundos, depois, pediu-lhe para segurar o frasco,
endireitou-se, abotoou acintosamente duas casas da camisa, ofereceu-lhe um sorriso atrevido, como
que a dizer acabou-se o espectáculo , cruzou as pernas ao contrário, pediu-lhe o frasco de volta,
começou a pintar as unhas do outro pé. E João Pedro já não sabia onde se enfiar e só se ria de
nervos. Despejou a garrafa de cerveja num instantinho e pediu para ir à casa de banho.
— É por ali — indicou Cristiane, apontando.
— Eu sei — reclamou ele, divertido.
Ela deu uma palmada na testa.
— Claro que sabe!
E lá foi ele, perseguido pela gargalhada dela, que se ria como uma perdida.

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