num silêncio pasmado, e sorria como um parvo, com muita perplexidade. E assim continuou,
deslumbrado, enquanto dois funcionários os conduziam cheios de mesuras numa visita guiada pela
suíte que lhes estava reservada para os próximos dias. Cristiane escolhera uma das mais caras, com
sala de estar e quarto, voltada para o mar.
Ficaram a sós na suíte. João Pedro apreciou em redor a mobília inglesa antiga. Na sala, toda em
serenos verdes e amarelos, destacava-se o luxo confortável e sóbrio dos sofás de veludo que
convidavam ao repouso. Não havia excessos de decoração na mesinha de centro envidraçada, na
escrivaninha de madeira com os discretos entalhes da gaveta, ou nas bambinelas que ornavam as
janelas com motivos florais estampados sobre um fundo branco.
Cristiane equilibrou-se numa perna para tirar um sapato, depois o outro, e foi deliciada até ao
quarto, dando passinhos ágeis na macia alcatifa cor de mostarda, que condizia perfeitamente com o
suave amarelo das paredes. Despiu o uniforme, que só voltaria a usar dentro de uma semana,
regressou à sala e surpreendeu João Pedro, insinuando-se nua encostada à ombreira da porta, de mão
na cintura.
— Vou tomar banho, que estou pegajosa — anunciou. — Depois, experimentamos a cama?
Foram à praia no outro lado da avenida, já a noite chegava com uma brisa premonitória a levantar-
se. Fazia uma temperatura quase agradável lá fora, embora o céu estivesse de um cinzento
impenetrável e severo, ameaçando derramar águas sobre a cidade turbulenta que já se ia iluminando
naquele crepúsculo plúmbeo. Era Inverno no Brasil e, conquanto não descesse ao exagero das
temperaturas do Inverno europeu, não estava tempo para banhos de sol e mergulhos.
Entraram descalços pelo morno e fino areal branco e andaram até se acharem em face do mar
escurecido e rezingão, com as suas ondas quebradiças que vinham morrer de branco à praia vazia.
Era romântico. João Pedro abraçou Cristiane por trás, cingindo-a pela cintura, beijou-a no pescoço.
Ela inclinou a cabeça para o peito dele, fechou os olhos, sentiu-se feliz. Ele foi assaltado pelo
pensamento indecente de que teria gostado de trazer Clara àquela praia.
Caminharam um pouco pela areia dura e húmida, à beira-mar. Ela ia de vestido vermelho, casaco
de algodão vermelho, sandálias na mão, ele de calças de ganga arregaçadas até aos joelhos, camisa
branca, camisola azul-escura, sapatos de vela na mão.
Cristiane planeara levá-lo a jantar ao CT Boucherie, um restaurantezinho bonito de carnes que lhe
dava prazer, no Leblon, onde ia sempre, mas agora hesitavam, a sentir o quebranto da viagem. Ele
mais do que ela, por falta de hábito, com o cérebro ainda zonzo, meio perdido na confusão do jet
lag.
O dia passara depressa. Apesar de o avião ter aterrado bastante cedo no aeroporto do Galeão, o
aparelho ficara retido na placa quase quarenta e cinco minutos. Quando finalmente desembarcaram,
João Pedro perdera muito tempo nas formalidades de fronteira e a ver a bagagem dos outros
passageiros a desfilar na passadeira rolante enquanto a sua mala ficava irritantemente para o fim.
Cristiane passara ao lado da imensa fila dos passaportes com o resto da tripulação e ficara à espera
dele lá fora. Com tudo isto, chegaram ao hotel já depois do meio-dia.
A tarde escoara-se sem darem por ela, fechados no quarto. Cristiane caíra em cima da cama
enrolada na toalha de banho, estendera a mão para João Pedro a tentá-lo sem piedade, e ele deixara-
se ir atrás de uma necessidade irreprimível de afastar aquela toalha que tapava precariamente o belo
corpo dela. Mas Cristiane, decidida a infligir-lhe o doce sofrimento da expectativa, aferrou-se ao