12 • Público • Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019
POLÍTICA
O ambiente está na moda,
mas o “capitalismo não é verde”
O PCP luta para que as bandeiras da
defesa do ambiente não passem para
outros partidos. A festa do Avante!
tornou-se mais ecológica e houve vários
debates só sobre o tema
Vasco ainda não chega a um metro
e meio de altura, mas no alto dos
seus nove anos tem a lição cívica e
ambiental bem estudada. De casa,
trouxe na mochila a sua caneca de
esmalte, porque o pai lhe disse que
este ano a Festa do Avante! era
ecológica e não havia copos de
plástico. Foi por isso que Æcou
“incomodado” quando foi vendo
pelo recinto um ou outro copo de
imperial descartado. Decidido, vai
até ao microfone, baixado à sua
altura, e lança a pergunta:
“Disseram que a festa era mais
ecológica, mas sabem que estão a
dar copos que vão parar ao lixo?”
Do lado de lá do microfone estava
um painel a debater Equilíbrio
ecológico, natureza e protecção que
juntava Miguel Tiago, candidato do
partido por Viseu, Vladimir Vale, da
comissão política do PCP, e Heloísa
Apolónia, deputada do Partido
Ecologista Os Verdes. Miguel Tiago
explicou a Vasco que o PCP decidiu
“dar a opção” a quem vai à Quinta
da Atalaia de ter um copo
reutilizável. “Mas não obrigamos
ninguém a fazer aquilo que
achamos que está certo”, disse.
A frase do comunista vai ao
encontro do que foi sendo
defendido ao longo das mais de
duas horas de debate no sábado de
manhã: a responsabilidade
individual não é o caminho para
fazer o combate pelo ambiente.
Ajuda, mas está longe de ser a
solução para o problema. Essa
passa por uma mudança de sistema
porque “o capitalismo não é verde”.
O slogan O capitalismo não é
verde está inscrito à entrada da
festa, pintado num mural. O graffiti
apresenta um mundo de onde sai
uma torneira com o lema. A mesma
frase aparece mais tarde como título
de um dos quatro debates sobre
ambiente previstos na festa deste
ano — ao contrário do que
aconteceu nos últimos dois, quando
houve apenas um. No sábado à
tarde, juntaram-se umas dezenas de
militantes para ouvirem
representantes de vários partidos
comunistas do mundo inteiro,
incluindo dos EUA, debaterem o
posicionamento dos comunistas
sobre a luta pelo ambiente: “O
problema não é de cada um
individualmente, mas do modo de
exploração capitalista”, dizia o
norte-americano. Ou, como diria
Heloísa Apolónia, “há aqueles” que
querem taxar o “cidadão-poluidor,
mas pagar para poluir não é um
princípio ambiental correcto”.
A onda verde começou aqui
Abalroado por uma onda verde nas
últimas europeias, que levou a uma
maior representação de partidos
ecologistas e ambientalistas no
Parlamento Europeu — e com o
crescimento do PAN em Portugal
—, o PCP sentiu-se injustiçado pelos
anos de trabalho sobre o tema: “Se
consultar a história parlamentar é,
de facto, uma injustiça recusar o
papel que o PCP teve na defesa do
ambiente em relação à reciclagem,
aos plásticos. Propostas com mais
de 20 anos e na altura ninguém
ligava importância. Estranhamos
que alguns, para quem a questão
do ambiente era zero em termos
programáticos, apareçam agora
como campeões do ambiente”,
disse Jerónimo de Sousa.
“Alguns” surge como pronome
indeÆnido em vez de um nome que
não se pode pronunciar: PAN. “Não
acordámos agora para as questões
ambientais, apesar de quererem
passar a ideia que há novos
protagonistas que se preocupam
agora com o ambiente. Nós temos
património”, lança Vladimir Vale.
Miguel Tiago, por seu turno, ensaia
a teoria de que há “partidos típicos
da burguesia que, ao aceitarem as
linhas do grande capital, iludem as
Reportagem
Liliana Valente (texto)
e Pedro Fazeres (fotografias)
A 43.ª Festa
do Avante!,
que ontem
terminou,
inovou ao
denominar-
se ecológica