Público - 09.09.2019

(Ron) #1
Público • Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019 • 13

vendidos a cinco e seis euros na
festa, para encherem de água nos
bebedouros do recinto. A água por
ali, é gratuita, mas lá fora é uma
prova de que o capitalismo quer
transformar o “ambientalismo num
negócio”, com as grandes empresas
a criarem “rótulos” de
sustentabilidade. “Tentam
demonstrar que o capitalismo é tão
natural como a nossa sede, tentam
transformar a natureza num
mercado”, como já Æzeram “com o
mercado do carbono”, diz Vladimir.
Nestes debates, os comunistas
não defendem que se destrua o
capitalismo de uma assentada, mas
explicam que só uma sociedade que
caminhe para o socialismo pode
preocupar-se com a natureza em
primeiro lugar, à frente do lucro. “O
capitalismo não é verde é uma
expressão que temos de passar”,
defende Heloísa Apolónia.
Há quem pergunte por outras
políticas. Aí, a responsável d’Os
Verdes dispara: “Mais do que
parangonas que têm muito eco na
comunicação social (...) e medidas
simbólicas como a declaração de
emergência climática, nós temos
trabalhado como formiguinhas.” E
exempliÆca com propostas, como a
lei da água, a lei de bases do
ambiente ou a redução dos preços
do passe social — que esse partido
[PAN] “não votou favoravelmente”.
“Acho incongruente, Æco de boca
aberta”, disse.
O PCP recusa entrar em “modas”,
prefere falar em consciencialização,
mas os comunistas lá vão
agradecendo a companhia na luta,
desde que ela seja pelo lado certo: o
de alertar para a “emergência
ambiental” e não “climática”, que
clima é só uma parte do ambiente.
“Temos uma intervenção que não é
de hoje, mas quisemos dar-lhe na
festa essa força e essa visibilidade”,
conta ao PÚBLICO Alexandre
Araújo, da direcção da festa.
Na loja do partido, as canecas de
esmalte e as garrafas estavam a ter
mais saída do que o habitual, mas só
no Ænal da festa o PCP contabilizará
o sucesso da iniciativa de promover
mais copos reutilizáveis, pratos e
talheres de papel para reduzir ao
mínimo as toneladas de plástico que
iam para reciclagem todos os anos.
com Sofia Correia Baptista

[email protected]

massas e branqueiam o
capitalismo”. Para o PCP não é
apenas uma “luta pela natureza”,
mas também uma “luta pela
direcção da luta” e, por isso, cabe
ao partido denunciar os falsos
defensores do ambiente.
Lá fora, a festa vai aquecendo e é
possível ver que há quem passe com
garrafas e copos reutilizáveis,


O PCP não quer deixar palavras como
“estabilidade” e “conÆança” para
partidos alheios e decidiu apropriar-
se de uma delas para descrever aos
eleitores o modo como se vai apresen-
tar às eleições legislativas: “ConÆança
é a nossa palavra de ordem”, disse
Jerónimo de Sousa aos microfones no
comício de encerramento da 43.ª Fes-
ta do Avante! O secretário-geral do
PCP diz que o partido “nunca traiu”
o voto de ninguém e é o único que
“conta, e conta bem, para impedir a
maioria absoluta do PS”.
Jerónimo de Sousa tem visto que as
sondagens dão os comunistas a per-
der votos e, depois das autárquicas e
das europeias, altura em que se supõe
que tenha havido muitos casos de
transferência de voto da CDU para o
PS, o secretário-geral do PCP pede
para que todos se mobilizem e falem
com outros eleitores, incluindo aque-
les que “alguma vez” votaram na
CDU, para lhes lembrarem “que o seu
voto nunca foi traído, sempre respei-
tado, sempre honrado”.
O objectivo primeiro, para os
comunistas, é o de “conÆrmar e alar-
gar a inÇuência nos círculos onde o
PCP tem deputados”. Só depois vem
a ambição de eleger parlamentares
naqueles distritos onde a coligação
não os tem. Em resumo, é preciso
“crescer em votos e em deputados
conÆantes no trabalho executado”,
disse o líder do PCP.
Durante cerca de uma hora, Jeró-
nimo de Sousa puxou para o partido
o “papel decisivo” nas melhorias da
actual legislatura. “Há quatro anos,
travámos e vencemos a luta dos tra-
balhadores e do povo”, aÆrmou. Esse
papel “decisivo” incluiu a tarefa de
mostrar que as eleições de 2015 que-
braram com o “círculo vicioso” de
constituição de governos. “Estes qua-
tro anos mostraram que valeu e vale
a pena a luta para abrir caminho.
Mostraram quão falsas eram as recor-
rentes campanhas que faziam crer
que as eleições são para eleger pri-
meiros-ministros. As eleições não são

Jerónimo pisca o olho aos eleitores


que um dia já votaram no PCP


para eleger o primeiro-ministro, são
para eleger deputados. A vida política
nacional desfez esse engano com
decisivo contributo do PCP.”
A luta do PCP, já o tinha referido, é
a de evitar uma maioria absoluta do
PS: “Não há vencedores antecipados.
Todos os caminhos estão em aberto.
Não encontrarão outra força política
que dê garantia ao que se conquistou”
e que permita avançar.
“Avançar” é o verbo escolhido pelo
comunista por oposição àquilo que
considera que o PS se prepara para
fazer: andar para trás. “Hoje preci-
samos de travar uma nova batalha,
a da criação de condições para con-

Liliana Valente


MIGUEL A. LOPES/LUSA

tinuar a avançar e impedir que se
ande para trás”, disse. Os sinais já os
vê, sobretudo na questão da lei labo-
ral, na qual, recordou, o PS contou
com o apoio do PSD: “Este PSD que
em relação ao PS funciona sempre
como pronto-socorro”, comentou.
Numa altura em que muitos vêem
uma disputa à esquerda, entre PCP e
BE, Jerónimo centra o seu combate
nos socialistas, sobretudo depois de
António Costa ter elogiado o PCP e
apontado o BE como principal inimi-
go. No discurso Ænal da festa, Jeróni-
mo falou naqueles que “mandam
recados e recadinhos” e que “inven-
tam falsas disputas decisivas que de
decisivas nada têm”. “Ensaiam novas
e falaciosas bipolarizações para ocul-
tar o que é uma evidência: o voto na
CDU conta e conta bem para evitar a
maioria absoluta do PS, para não dei-
xar o PS de mãos livres, para praticar
a velha política.”
Para o futuro, Æca uma declaração
de Jerónimo que pode ser lida à luz
dos resultados eleitorais. Disse o líder
comunista que o partido nunca Æcou
“tolhido pelas circunstâncias” e que
nunca “deixa o país num beco sem
saída”. O PCP “sabe o terreno que
pisa e apresenta sempre soluções
para os problemas”. Foi assim em


  1. Resta saber se em 2019 será pre-
    ciso que assim seja.


37,
valor, em euros, do ingresso, ou
“título de solidariedade”, para
os três dias da festa, quando
comprado nas bilheteiras

42
as excursões organizadas a
partir de vários pontos do país,
de Braga a Faro, com destino à
Quinta da Atalaia, no Seixal

3
dias é a duração da festa. A
primeira realizou-se no final de
Setembro de 1976, mas
entretanto mudou-se para o
primeiro fim-de-semana do mês

Jerónimo de Sousa discursou no encerramento da festa
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