Público • Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019 • 9
SEM COMENTÁRIOS PORTO
PAULO PIMENTA
E as melgas,
Senhor?
O
uço o zumbido que nunca
reconheço, de ano para ano, e sei
que é uma coisa má que me vai
prejudicar injustamente.
São as melgas. Há trinta anos,
diria as prostitutas das melgas
quando hoje sei que a merda são
os clientes. Digo isto não para
falar das melgas, mas para
mostrar que se aprende.
A Maria João hoje matou quatro, em três
minutos. Estavam todas cheias de sangue.
Não tenho amizade nenhuma pelas moscas,
que detesto, mas, se vasculhar as profundezas
da minha boa vontade, admito que admiro a
persistência e o entusiasmo das moscas.
Já as melgas — esses passadores de doença,
os mosquitos — não têm uma única qualidade.
São deÆnidas por um facto que talvez não
conheça (eu também pagaria para não
conhecer): gostam mais de outros animais. Só
picam seres humanos por indignação de não
haver bois e cavalos. Respect!
Olho para as maleitas que deixaram nas
minhas pernas e Æco espantado com a
maldade destas bestas. Se quisessem apenas o
sangue, até seriam bem-vindas. Mas têm ódio
dentro delas, necessidade de desÆgurar.
O meu pai uma vez maçou-me com o nome
de um português que tinha dado cabo da
malária numa colónia qualquer que tivemos.
Que vontade tenho hoje de voltar a essa
conversa — e de ouvir!
Levo a mal o progresso do mundo em que
ainda subsistem melgas. O erro não é das
melgas, coitadas, que são bichos como nós.
O erro é inteiramente nosso. É isso que
mais me custa.
Que espécie de civilização somos nós em
que as melgas ainda singram? Que diz isto
sobre nós? Com que cara conseguimos
acordar?
É tão triste!
Miguel Esteves Cardoso
Ainda ontem
A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores
ESCRITO NA PEDRA
Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu
saberei se foi a falha necessária
Clarice Lispector (1920-1977), escritora
EM PUBLICO.PT
Os bebés reais britânicos
em imagens
A princesa Charlotte foi pela primeira
vez à escola esta semana, acompanhada
pelo irmão mais velho, George.
O irmão mais novo, Louis, e o primo
Archie também aparecem nesta fotogaleria
repleta de realeza
publico.pt/fotogalerias
E as 7 Maravilhas Doces
de Portugal são...
Eram mais de 140 doces candidatos, mas
só ficaram sete: a Crista de Galo (Vila Real),
as Roscas de Monção ou a Amêndoa
Coberta de Moncorvo foram alguns dos
vencedores da gala transmitida na RTP,
escolhidos através de votação telefónica
publico.pt/fugas
Megafone P3: cuidado
com o que desejas
Fazendo jus à expressão “o que arde cura”,
será que a dor pode ser a nossa melhor
amiga? O “megafone” de Manuel
Clemente, no P3, faz uma viagem por
ditados populares e pelos infortúnios do
autor que, afinal, foram “males que vieram
por bem” publico.pt/p
Depois do Presidente ter exibido um mapa da
rota do furacão Dorian alterado a marcador
para defender um tweet com informação
errada, os funcionários dos serviços meteorológicos
do país receberam ordens para não “darem opinião”
sobre as previsões falsas do Presidente — nem as
corrigir. Após várias outras histórias fantasiosas,
Trump desenhou mais uma para manter o frágil ego
intacto, mesmo que isso signifique abandonar o
pensamento lógico. (Pág. 30) M.D.
Faz bem em regulamentar o que for preciso
para que o enquadramento legal da
exploração mineira esteja completo. Mas
adiar para depois das eleições os concursos de
explorações de lítio só pode ser visto como sinal de
fraqueza de quem quer evitar polémicas ambientais
em época eleitoral. É pena, porque deveria ser uma
boa ocasião para afirmar com segurança que todas
as devidas medidas de redução dos impactos
João Galamba ambientais serão tomadas. (Págs. 26/27) D.P. Donald Trump