Público - 09.09.2019

(Ron) #1
8 • Público • Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019

ESPAÇO PÚBLICO


As cartas destinadas a esta secção
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CARTAS AO DIRECTOR


Montenegro
ou Montebranco?

Luís Montenegro parece-me ser o
sucessor natural de Rui Rio na
liderança do PSD e já a partir de
Outubro, depois das eleições
legislativas, que vão provocar a
queda do actual líder dos
sociais-democratas. PreÆro
chamar-lhe Montebranco, em
linguagem metafórica, claro, e dada
a alvura desta cor, em contraste com
o negro que é quase sempre um mau
presságio, não augurando nada de
bom. O branco, com o fumo que lhe
está associado, costuma ser também
a cor da paz, o que pode signiÆcar
que a liderança de Montenegro será
bastante mais pacíÆca e consensual
do que a de Rio.
O provável novo líder do PSD, ao
contrário do actual, tem um grande
traquejo parlamentar que joga,
claramente, a seu favor e habilita o
partido para a oposição ao PS, ou à

“geringonça”, que lhe está
destinada na próxima legislatura.
Montenegro terá de devolver o PSD
à sua origem social-democrata e não
pode adoptar o estilo autoritário,
por vezes extremista, de Rio. A
disputa do espaço social-democrata
com o PS, apresenta-se, quanto a
mim, como a grande prioridade
política do novo PSD. O espírito
reformista, inerente à essência do
partido, deverá marcar a sua
orientação, tanto mais que a
“geringonça” foi parca em reformas
e a Justiça, o pilar da democracia,
atravessa crise grave e profunda,
reclamando medidas urgentes.
Montenegro deverá, de igual
modo, concentrar-se na reforma do
sistema eleitoral e no combate às
desigualdades e nas políticas de
Saúde e Educação, traves-mestras
do Estado Social, que não tem de
ser posto em causa, de forma
alguma, embora a abertura ao
privado, quer num quer no outro

sector em apreço, não deva ser
vedada. (.,.) Terá de ser moderado e
pragmático. Para o seu partido
melhor se reconciliar com Portugal
e os portugueses.
Simões Ilharco, Lisboa

Ponto final parágrafo!


Creio que está na hora de se colocar
um ponto Ænal nesta tonta, inglória
e absurda questão do acordo
ortográÆco de 1990. Resolva-se esta
luta de manjerona de uma vez por
todas. Continuo a entender que faz
sentido uma actualização da escrita,
numa renovação de algumas
palavras, perdendo algumas delas
certas letras que nada lhe
acrescentam, porque mudas e não
ditas ou utilizadas, (casos de
director, selecção, protector,
colecção, quase ninguém pronuncia
o c...), embora eu sempre tivesse
achado um disparate autêntico a
questão da palavra facto, por

exemplo. Lá está, um caso em que
nunca se devia ter tocado, bem
como o “pára e o para”... EnÆm,
aqui os Ælólogos especialistas do
novo acordo estiveram mal ao
entenderem ir ao encontro do
português do Brasil, pecaram em
não preservar as devidas diferenças
no signiÆcado de cada uma das
palavras. Porque querem dizer
exactamente coisas diferentes.
Uma das pessoas que mais tem
batido no novo acordo é
exactamente um jornalista do
PÚBLICO, o Nuno Pacheco, que
sempre se recusou a ele e que
sempre o combateu, aliás de forma
informada e inteligente. Jornal que
nunca aderiu ao novo acordo, com
toda a legitimidade. E eu, que como
disse sempre fui apoiante do novo
acordo, como este próprio texto
demonstra, tenho de admitir que
está na hora de uma vez por todas
resolvermos esta questão.
José Manuel Pina, Lisboa

O monegasco de 21 anos está a provar que
aqueles que lhe apontavam um futuro
promissor na Fórmula 1 tinham razão. O piloto
da Ferrari conquistou ontem o seu segundo triunfo
consecutivo num Grande Prémio e fê-lo logo em
Itália. Uma conquista muito festejada, já que
significou o fim de um jejum que durava há nove
anos — era esse o tempo que a marca italiana levava
sem vencer em “casa”. Para já, Charles Leclerc é o
quarto no Mundial de pilotos. (Pág. 44) J.M.M.

Não há muitas modalidade em que Portugal
se possa gabar de ser vice-campeão europeu
quer na variante masculina, quer na feminina.
Mas ontem, no ténis-de-mesa, as selecções
nacionais chegaram à medalha de prata, depois de
terem perdido as respectivas finais. E se os homens
já tinham sido “vices” em 2017 e até ganharam o
título em 2014, o feito tem ainda maior significado
nas mulheres, que antes desta competição nunca
Charles Leclerc Han Ying tinham ido além das meias-finais. (Pág. 46) J.M.M.

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Lítio na eira e chuva no nabal


V


ale a pena iniciar esta conversa
por lembrar que Portugal é a
49.ª economia do mundo e que
Ægura em 43.º lugar no ranking
da ONU para o Desenvolvimento
Humano. Quer isto dizer que não
somos dos mais desgraçados, mas que
somos um país remediado, cujo
fabuloso clima e nível recorde de
segurança não nos devem fazer
esquecer as nossas debilidades.
Começar por evocar a nossa
condição económica para discutir
questões ambientais pode parecer

excesso de pragmatismo, mesmo
cinismo, mas nas duas questões
ambientais que mais têm agitado
consciências nos últimos tempos —
olival intensivo e exploração de lítio —
é grande o desfasamento entre aquilo
que somos e as exigências que
achamos razoável fazer.
O caso do olival intensivo é talvez o
mais claro deste desequilíbrio. O país
esperou durante décadas que o
investimento de cerca de 5 mil
milhões no Alqueva começasse a dar
frutos e eles surgiram na
multiplicação desse pequenino
“fruto-maravilha”, a azeitona, que,
graças ao olival intensivo, viu a
produção crescer de tal forma, que
transformou um país deÆcitário em
azeite num país auto-suÆciente.
Mas multiplicam-se as vozes a atacar
estas explorações por considerarem

que trazem graves problemas
ambientais. Só que se no topo das
objecções está “a mudança brusca de
paisagem”, a justiça das críticas não
medra. Imaginem que a Região dos
Vinhos Verdes tinha Æcado pela defesa
da beleza das videiras em ramada e
ainda hoje o sucesso exportador dessa
região seria uma miragem.
No capítulo do “como era bom ter
energia eólica sem ventoinhas”,
também andam enredados os
ambientalistas e o lítio, a outra causa
da actualidade. É evidente que os
problemas do impacto das
explorações mineiras são muito mais
acutilantes do que os dos olivais
intensivos. Mas também é muito
claro que não se pode, sem imolar a
coerência, andar a defender uma
política de energias limpas e depois
tentar tornar impossível a extracção

dos meios necessários para a
obtermos.
Quer isto dizer que entre as nossas
debilidades naturais e as necessidades
universais de desenvolvimento não
sobra espaço para a defesa das
condições ambientais? De maneira
nenhuma, e é bom que as populações
e os seus representantes desconÆem
da capacidade do poder central em
defender a sua qualidade ambiental.
O que não é razoável é partir para a
necessária defesa de exigência
ambiental com a ideia de qu e a
melhor solução é nunca haver olival
intensivo ou explorações de lítio.
Compromisso é preciso, não
desperdiçar oportunidades de
desenvolvimento continua a ser
imperioso.

David Pontes
Editorial
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