Exame - Edição 1180 (2019-03-06)

(Antfer) #1
54 | http://www.exame.com

GESTÃO | LIDERANÇA


H


Á MAIS DE 30 ANOS, O ARGENTINO
CLAUDIO FERNÁNDEZ-ARÁOZ, con-
sultor sênior da Egon Zehnder,
empresa de busca de executivos
com escritórios em 68 países, desenvolve
metodologias para identificar talentos.
Professor convidado da Universidade
Harvard, nos Estados Unidos, onde mora,
e um dos maiores especialistas do mundo
em busca de talentos e liderança, Fernán-
dez-Aráoz tem nos últimos anos buscado
entender as principais diferenças entre
líderes homens e mulheres e as dificulda-
des para promover a igualdade de gênero
— alguns estudos mostram que, global-
mente, menos de 10% dos cargos de alta
liderança são exercidos por mulheres.
Para desvendar as disparidades entre gê-
neros em cargos de liderança, Fernández-
-Aráoz esteve à frente de uma pesquisa

inédita sobre o tema, realizada com qua-
se 3 000 profissionais de dezenas de paí-
ses. Na entrevista a seguir, o consultor
argentino — que participará no dia 11 de
março de um evento em São Paulo sobre
o futuro da liderança feminina — analisa
os resultados do estudo.

O que mais chamou sua
atenção na pesquisa?
Há pelo menos três décadas desenvolvo
modelos para avaliar o potencial das pes-
soas. Observo que empresas com mais
mulheres em postos de liderança costu-
mam ter melhores resultados, inclusive
financeiros. Resolvi ir mais a fundo e in-
vestigar as reais diferenças entre o desem-
penho de ambos os gêneros nas empresas.
Nossa pesquisa mostra que as executivas
são mais determinadas do que seus pares

Para Claudio Fernández-Aráoz, um dos maiores


especialistas mundiais em liderança, as mulheres
executivas são mais determinadas do que seus
colegas masculinos porque lutam mais para

chegar ao topo — uma diferença que as empresas
precisam saber aproveitar CARLA ARANHA

ELAS SÃO MAIS


GUERREIRAS


homens e também demonstram mais en-
gajamento. Esse resultado vai contra o
senso comum. Geralmente, as pessoas
têm uma imagem de que os homens são
mais guerreiros. Percepções como essa
foram construídas ao longo de séculos,
nos tempos em que os homens saíam pa-
ra caçar e as mulheres ficavam em casa.
Mas isso mudou, e já faz algum tempo.

Por que as gestoras
são mais determinadas?
Provavelmente, um dos principais moti-
vos é que elas precisam lutar mais do que
os homens para chegar ao topo da carrei-
ra. Devem ser mais fortes. Elas lidam
também com a dupla jornada, que é ou-
tro desafio. Existem ideias preconcebi-
das, muitas vezes inconscientes, que
influenciam as promoções e contrata-
ções. Evolutivamente, queremos estar
perto de quem é parecido conosco. Não
surpreende que homens queiram ho-
mens a seu lado e até hoje mandem no
mundo, em várias esferas. O problema é
que, além da injustiça com as mulheres,
essa atitude não ajuda em nada a promo-
ver a diversidade, um ativo cada vez mais
essencial em um mundo em rápida
transformação. As organizações com
pessoas de perfis diferentes têm mais
chance de criar soluções inovadoras e
também de se adaptar a mudanças.
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