6 de março de 2019 | 55
corretamente os diferentes potenciais dos
profissionais que podem se tornar líderes.
As mulheres têm hoje mais potencial
de chegar a cargos de liderança, embora
isso não ocorra com tanta frequência?
Certamente. Mais de 30 anos recrutando
líderes para as maiores organizações do
mundo nos permitiram implementar um
padrão para identificar características
importantes das pessoas mais talhadas
para esses cargos. O insight, que é a capa-
cidade de conectar pontos e ter boas
ideias, é um dos indicadores que utiliza-
mos. Já foram feitos diversos testes de-
monstrando que boa parte das mulheres
tem facilidade em perceber emoções, o
que é um componente importante do
insight e da inteligência emocional. A
curiosidade é outro aspecto que mensu-
ramos. De novo, as mulheres costumam
se sair bem. Claro que os homens têm
outras competências, e o ideal é unir todo
o arcabouço de talentos para que as em-
presas conquistem melhores resultados.
Mas, num ambiente em que as culturas se
mesclam, as empresas são cada vez mais
globais e os intercâmbios entre pessoas
de diversas origens aumentam, saber de-
cifrar emoções e lidar com as diferenças
pode ser uma ferramenta importante,
assim como ter determinação.
Uma pesquisa recente apontou que, nas
empresas americanas de capital aberto
nas quais há mais diversidade, as ações
oscilam menos. Por que isso acontece?
Não quero pender a balança para o outro
lado, exaltando as mulheres, mas estudos
mostram que times com a presença de
mulheres são mais eficientes em resolver
problemas. Aqui, de novo, temos um re-
sultado contrário à percepção popular.
Existe a crença de que mulheres têm me-
nos capacidade para algumas funções, o
que não é verdade. É só uma repetição do
que ouvimos por décadas. Você sabia que
na Universidade Harvard, uma das me-
lhores do mundo, não havia banheiro
feminino até 60 ou 70 anos atrás? As pri-
meiras alunas começaram a chegar e re-
clamaram que não havia uma estrutura
adequada. Só aí foram pensar nisso. De lá
para cá, caminhamos um bocado, mas é
preciso lutar para evoluirmos mais. Q
O argentino Claudio
Fernández-Aráoz:
a diversidade é cada
vez mais essencial
A pesquisa também mostra que,
em relação a competências
como conhecimento de mercado
e orientação estratégica, as mulheres
têm resultados piores do que
os homens. Por quê?
É impressionante, pois detectamos que
em geral elas têm um ótimo potencial
quando começam na carreira. Mas, ao
mesmo tempo, a explicação é fácil. As
mulheres geralmente têm menos oportu-
nidade de participar de projetos estraté-
gicos e de outras ações que levem ao de-
senvolvimento de diversas capacidades.
Para mudar esse cenário, não bastam um
esforço do departamento de recursos hu-
manos ou a criação de políticas afirmati-
vas. O presidente da empresa precisa es-
tar empenhado de verdade em garantir a
igualdade. É preciso saber identificar
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