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SUSTENTABILIDADE | MONITORAMENTO
“VAMOS TER O MELHOR
SISTEMA DE CONTROLE”
O paulistano Ricardo Salles, ministro
do Meio Ambiente, quer comandar um
amplo esforço de detalhamento e qua-
lificação das informações sobre o des-
matamento no Brasil. Embora o país
seja um modelo no uso de imagens de
satélite para análise de cobertura e
ocupação da terra, ainda se leva muito
tempo para interpretar os alertas lan-
çados por sistemas de sensoriamento
remoto — são 11 sistemas em opera-
ção. Salles revelou com exclusividade
a EXAME que o plano do governo é
aliar a cada alerta de desmatamento
um laudo com detalhes sobre o tipo de
área derrubada — com informações
que indiquem se a prática está em área
legal ou ilegal. “Isso facilitará o direcio-
namento correto da fiscalização”, afir-
ma. O detalhamento será feito pelo
Mapbiomas, um projeto com base em
inteligência artificial e que envolve uni-
versidades, ONGs e empresas de tec-
nologia. A seguir, uma conversa com o
ministro, cercado de polêmicas desde
sua indicação para o cargo — como a
condenação por improbidade adminis-
trativa por ações quando era secretário
do Meio Ambiente em São Paulo e uma
visita oficial a uma área em Mato Gros-
so embargada pelo Ibama.
O que dá para melhorar na mensuração
do desmatamento no Brasil?
Temos hoje vários sistemas de moni-
toramento feitos por diversos órgãos,
cada um usando uma tecnologia dife-
rente, seja por satélite, seja por radar.
Agora vamos unir esforços para ter o
melhor sistema de monitoramento
possível, que conjugue imagens de sa-
télite, radar e detecção in loco por dro-
nes. A isso vamos associar relatórios
que qualifiquem o desmatamento, fei-
tos pelo Mapbiomas. Não basta indicar
onde e em que medida o desmatamen-
to está ocorrendo. É preciso saber com
rapidez que tipo de desmatamento é
esse, se é legal, ilegal, regular ou irre-
gular. Com a ajuda de inteligência arti-
ficial e algoritmos, essa classificação
será possível — e isso facilitará o dire-
cionamento da fiscalização. Vamos
reunir o Censipam [órgão das Forças
Armadas que monitora a Amazônia], o
Ministério da Agricultura, o Ibama e
também os estados. Queremos tam-
bém contratar policiais militares nas
horas de folga, num esquema parecido
com a diária especial de jornada, em
que voluntariamente eles trabalham
em atividades complementares. Assim
teremos uma força-tarefa mais robus-
ta diante de cada alerta de desmata-
mento. Esse modelo deve colocar até
400 homens a mais em campo.
O Inpe é uma referência
internacional em sensoriamento
remoto. O governo está
consultando o órgão?
O Inpe faz parte dessa articulação.
Em quanto tempo o novo esquema
estará funcionando e quanto custará?
O Fundo Amazônia vai viabilizar isso.
Aliás, é um bom destino para esses
recursos [o fundo do BNDES reúne
doa ções internacionais para a redução
do desmatamento do bioma]. Não é
trivial colocar tudo isso de pé, mas
também não é tão complicado assim.
Em três ou quatro meses, tudo deve
estar rodando plenamente. E tudo isso
tem um objetivo: somos muito rigoro-
sos com o que é ilegal, mas não vamos
perseguir o que não é ilegal.
Com as mudanças na estrutura
do governo, como ficam
o PPCDAM e o PPCerrado,
os principais programas oficiais
de combate ao desmatamento?
Esses programas estão na Secretaria
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, quer usar
inteligência artificial para interpretar mais rapidamente
os alertas de desmatamento no Brasil RENATA VIEIRA
O ministro Ricardo
Salles: “Somos
rigorosos com
o que é ilegal,
mas não vamos
perseguir o que
não é ilegal”