Folha de São Paulo - 21.08.2019

(Steven Felgate) #1

cotidiano


aeee
Quarta-Feira,21Deagosto De 2019 B1

Witzel comemoraaçãoediz quevaiquestionarSTF sobre‘abate’



  • Italo Nogueira, DiegoGarcia
    eGustavo Uribe


RiodeJaneiRoeBRasíliaEm
meioaoaumentodaletalida-
de policialnoestado do Riode
Janeiro, ogovernador Wilson
Witzel (PSC) usouocasodo
sequestrodeônibusnapon-
te Rio-Niterói paradefender
sua políticade“abate” de pes-
soas que portam fuzis.
Ao menos 15 pessoas mor-
reramatingidas por tiros du-
ranteações policiais em agos-
to,entreeles os jovens Marga-
reth Teixeira, 17 ,DyogoCosta,
16 ,Gabriel PereiraAlves, 18 ,e
HenricodeMenezesJúnior,
20 .Nos cincoprimeiros meses
do ano,apolícia fluminense
foiresponsávelpor 28 , 6 %das
mortes violentas no estado.
Nestaterça,aodescer do he-
licópteronaponteapósofim
do sequestro, Witzel fezges-
tosemcomemoração ao su-


pediuapromoçãodos poli-
ciais militaresque participa-
ramdaocorrência. “Jádeter-
mineiapromoçãodosatira-
dores por bravura.Foiuma
ação quemostraquantonos-
sa Polícia Militarépreparada
para preservar vidas.”
“Muitasvezes, umaparcela
da sociedade, partidos de opo-
sição,estão mentirosamente
dizendoque políciaestáma-
tandofavelados.Polícia iden-
tifica emataquem estápreju-
dicandoapopulação,erros são
estudados paraque não acon-
teçammais,foiumcasoimpor-
tanteparafazermos nossore-
gistro”,continuou.
Ogovernadortambém disse
queasituação deterror “está
acontecendonas comunida-
des”equeapolícia deve terli-
berdade paramatarquem es-
tiver portando fuzil.
Eleafirmou que pretende
consultaroSTF (Supremo

TribunalFederal) sobreem
que possibilidades os polici-
ais podem matarsuspeitosde
cometer um crime.
“H áuma dúvidainterpre-
tativadealguns juristas so-
breomomentoque se po-
defazeraneutralização de
umapessoacomuma armade
guerra. [...] Se hoje essefoi
abatido,porqueosque estão
de fuzil não podem ser abati-
dos?”,disse ele.
Ogovernadorreconheceu
queamorte do sequestrador
pela políciaocorreu numa si-
tuação distinta dasoperações
realizadas emfavelas.“Sãosi-
tuações diferentes, mas se não
houvesseaimediata atuação
dosatiradoresde elite,tería-
mos que chorar sobreocaixão
devárias vítimasqueimadas.”
Witzeldisse aindaver vincu-
lação entreaaçãodeWillian
AugustodaSilva, 20 ,efacções
criminosasqueatuam emfa-

rotambém defendeuaatu-
ação do franco-atirador no
casoeafirmouque “nãotem
queterpena”.
“Parabéns aos policiais do
Rio deJaneiropela ação bem-
sucedida que pôs fim ao se-
questrodo ônibusnapon-
te Rio-Niterói nestamanhã.
Criminoso neutralizadoene-
nhumrefémferido. Hoje não
choraafamília de um inocen-
te”, escreveuemredesocial.
Maiscedo,ementrevista
concedida antes da morte do
sequestrador,Bolsonarolem-
brou docaso do sequestrodo
ônibus 174 ,em 2000 ,quando a
professoraGeísa FirmoGon-
çalves, 20 ,foi assassinada pe-
lo sequestradorSandroBar-
bosa doNascimento, 21.
“Nãofoiusado sniperemor-
reuuma professorainocente.
Depois,essevagabundo mor-
reunocamburão”,disse.
Leia mais na pág. B2

cessoda ação policial.
“Se não tivesse sido abatido
esse criminoso,muitas vidas
nãoteriam sido poupadas. Se
apolícia puderfazerotraba-
lho delaeabaterquem está
de fuzil,tantas outrasvidas
vãoser poupadas”,disseele.
Ogovernador afirmou que

velas, apesar de não haverin-
díciossobre essarelação.
Sobreacomemoração,ogo-
vernadorafirmouquecome-
morouavidaenãoamorte.
“A população que estavaaore-
dor estavacelebrando quevi-
das estavam sendo poupadas.”
OpresidenteJairBolsona-


Criminoso
neutralizado e
nenhumrefém
ferido.Hojenão
choraafamília
de um inocente

Jair Bolsonaro(PSL)
presidente, emrede social


Seapolícia puder
fazerotrabalho
delaeabaterquem
estádefuzil,tantas
outras vidasvão
ser poupadas

Wilson Witzel (PSC)
governador do rio,ementrevista


  • Cátia Seabra, DiegoGarcia,
    Ítalo Nogueira, JúliaBarbon


RiodeJaneiRoOsequestro de
um ônibuscom 38 passagei-
roseomotorista abordo so-
breumadaspontes maisco-
nhecidas do Brasil —a Rio-Ni-
terói— na manhã destaterça
( 20 )culminou na mortedo
suspeito, WillianAugustoda
Silva, por um franco-atirador
da Polícia Militarfluminense.
Nenhumrefém ficouferido.
Aaçãocriminosaeaopera-
çãopolicial, que tiveram seus
lancesfinaistelevisionados,
duraram quasequatrohoras,
atraíramatenção internacio-
naletiveramodesfechofeste-
jado pelo presidentedaRepú-
blica,Jair Bolsonaro(PSL), e
pelogovernador do RiodeJa-
neiro, WilsonWitzel (PSC), de-
fensores da polícia linha-dura.
Atéaconclusão destaedi-
ção, as motivações do seques-
trador não estavam aindato-
talmenteclaras.
Silva,um homem de 20 anos
sem antecedentes criminais
descrito porfamiliarescomo
depressivo, embarcounoôni-
bus da linha 2520 ,que ligao
bairrodeJardimAlcântara,
emSãoGonçalo(regiãome-
tropolitana do Rio), ao Está-
cio,nocentrodacapitalflu-
minense, porvoltade 5 h 10.


Homem sequestraônibus com39


abordo no Rio eémorto pela polícia


reféns saem ilesos; ação,que evocou ônibus 174, levou quase4horaseparouponterio-Niterói


Oespaçodetrásdoônibus
foiliberado paraque servisse
de banheiro, afirmouoconta-
dor LafaieteResende. Silvadi-
ziaaeles queosequestro ain-
da demoraria.
Às 6 h 20 ,cercade dez mi-
nutos apósoinício do diálo-
gocomapolícia,oprimeiro
refémfoi libertado. Ao longo
da negociação,encabeçada
por policiaisrodoviáriosedo
Batalhãode Choque,seriam
soltos mais cinco: quatroho-
menseduas mulheres,aoto-
do,oúltimo às 8 h 14 ,trêshoras
após Silvainiciarosequestro.
Uma das vítimas,aoser li-
berada, desmaiou no asfal-
to porcausa do nervosismo.
Osequestrador só deixaria o
ônibus porvoltadas 9 h,com
apolíciaeascâmeras deTV
àsuavolta.Usavauma más-
cara e, segundorefénsrema-
nescentes, queria entregar
itens de um dos passageiros
que acabaradeser libertado.
Jogouumcasacoemdireção
aos policiaisefez um aceno.
Foiquandoapolícia,sob
instrução docomandantedo
Bope,tenente-coronel Maurí-
lio Nunes, decidiuatirar.Após
duas horas de negociação,psi-
cólogosconvocadosaolocal
haviamconcluído queose-
questrador tinha“perfilpsi-
cótico”eera instável.
“Cercade 90 %das ocorrên-
ciassãoresolvidascom nego-
ciação.Eraumanegociação
real, por algumas questões in-
ternas queforamacontecen-
do,compsicólogos no local,
vimosque ele tinha um perfil
psicótico”,disse Nunes em en-
trevistacoletivadepois.
“A partir do momentoque
anegociaçãoreal cessa,ane-
gociação passaaser tática.”
Odisparo,nomomentoem
queosequestradortentava
voltar aoveículo,veiodeum
franco-atirador da PM, cuja
identidadefoiomitidapor ra-
zãodesegurança, posiciona-
do emcimadeumcaminhão
do CorpodeBombeiros.
Baleado, Silvacaiu, imobili-
zado.Oatiradorfezsinalde
positivo, enquanto, emtor-
no dacena, os policiaisfeste-
jaramerezaramoPai-Nos-
so.Passageirosreferiram-se à
ação da políciacomo“perfei-
ta”, apesar do medo de serem
atingidostambém.Aessaal-
tura já havia um aglomerado
de curiosos emtorno dacena.
Osequestradorfoilevado
paraohospital Souza Agui-
ar,nocentrodoRio.Durante
oatendimento, teveparada
cardiorrespiratóriaemorreu.
Foisóapósodesfecho que
ogovernador Witzeldesem-
barcounolocal do crime,ce-
lebrandocomgestosefusi-
vosaconclusãodaaçãopo-
licialcomosuspeito mortoe
semrefénsferidos.
Apolícia nãoconfirmou o
númerodetiros disparados.
Segundofuncionáriosdo
InstitutoMédicoLegal rela-
taram, maistarde,foramseis
perfurações:duas notórax,
uma no antebraçodireito,
uma na pernaesquerda,ou-
tranobraço esquerdo.Olocal
da sextanãofoiinformado.

Oepisódio viraria um docu-
mentário deJosé Padilha, di-
retorde“Tropa de Elite”.
“Willian [Silva] sófalava que
queria entrar paraahistória,
queagenteiater muitahistó-
ria paracontar.Sófalavaisso”,
disse Miller maistarde.
Silva,que tomava energético
sem parar declarando querer
“manteraadrenalina”, segun-
do osreféns, escolheuumdos
passageiros paraamarraros
demais.Ainda assim, alguns
conseguiram enviar mensa-

gensafamiliares.
Daniele Cariaestavaemca-
sa quandorecebeuamensa-
gemdomarido,Carlos Perei-
ra da Silva, dizendo que esta-
va em um ônibus sequestrado.
“Não tinhacomo ficarcalma.”
Omomentomaistensorela-
tado por Carlos, segundo Da-
niela,foiquando Silvacome-
çouaespalharagasolina que
levavaemgarrafas pelo ôni-
bus, ameaçandoatearfogo.
Asgarrafas eram presas por
barbantespassadospeloteto

do ônibus pelospassageiros,
por ordemdosequestrador.
Váriosreféns, entretanto,
repetiramqueosequestrador
não os ameaçou.“Elenunca
ameaçouagente, dizia que
não ia machucar ninguém. Fi-
camostensos,commedodea
gasolinacair”, afirmou Miller.
Segundoarecepcionista Ra-
faela Gama, 20 ,Silvamanipu-
lavaumisqueiroeacompa-
nhava arepercussão peloce-
lular,rindo.“Elerepetia que
não dormiahavia seis dias.”

Ônibus sequestrado parado sobreaponteRio-Niterói na manhã destaterça TV Globo/Reprodução

Cerca de 15 minutos depois,
quandooônibus se aproxima-
vada ponte, eleergueu uma
pistola—queapolícia mais
tardedescobriria ser um si-
mulacro—pediucalmaeafir-
mou que não queria machu-
carninguém,conformerela-
tarampassageiros.
Dirigiu-se ao motoristada
viação Galo Brancoe,amea-
çando-o comapistolafalsa,
um “taser”(arma não letal
de eletrochoque)eumafaca,
ordenou que parasseoveícu-
lo na diagonal sobreaponte.
APolíciaRodoviária do Rio
deJaneirofoi acionada por
voltadas 5 h 40 pelos própri-
os passageirosapedido do
sequestrador.Anegociação,
contudo,sócomeçariacerca
de 30 minutos depois, quan-
do Silvafez umadas vítimas
levarumcelular paraque ele
pudessefalarcomospoliciais.
“Ele diziaque queria dinhei-
rodo Estado.Nãodinheiro
nosso”,disseoprofessor Hanz
Miller, 34 ,umdos reféns.
Segundo Miller,Silvadiz
que pretendiarepetir outro
sequestro televisionadono
Rio,odoônibus 174 ,em 2000 ,
que levouàmortedocrimino-
soSandroBarbosadoNasci-
mentoedarefémGeísa Fir-
moGonçalves após mais de
cincohoras de negociações.

Sequestro ocorreulogonoinício daviagempelaponte,comdestinoao Rio

Armautilizadapara matarosequestradorfoiumfuzil,calibre 7. 62 ,
armamentopadrãodossnipersdoBope

Copacabana

Centro
Niterói

PonteRio-Niterói

Rio de
Janeiro

2 km

100 m

5 h 26
Willianaugusto da silva
sequestra ônibus na ponte
rio-Niteróicom 37
pessoaseobrigamotorista
adeixaroveículo atraves-
sado sobreapista

5 h 40
Políciarodoviária
Federaléacionada

6 h 11
sequestradorobriga
umadas vítimas a
entregarumcelular
para manter comunica-
çãocomos policiais
durante anegociação

7 h 15
os dois sentidosda
pontesão interdita-
dos. antes, apista no
sentidoNiterói estava
liberada

9 h 02
tirossão disparadosna
ponterio-Niteróipor
snipers da PM

9 h 04
PMconfirmaque
sequestradoréatingido
pordisparos

6 h 206 h 38 7 h 7 h 21 7 h 588 h 14

6 reféns liberadosdurante as negociações
Nenhumrefémfoi ferido

Armasencontradascom Willian

Estácio
Local de chegada
da linha

Jd.Alcântara
Local departida
da linha

Duas no
tórax

Sequestradorsofreuseis perfuraçõ es de fuzil*
umadas perfuraçõesnão teve localdeterminado

umno
antebraço

umna perna
esquerda

umno
braçoesquerdo

*Ummesmotiropode terfeitomais deumaperfuração

2

4

(^13)
4 - Bloqueio
policial,onde
um atirador
deelitefez o
disparoque
matouWillian
2 - segundo
pontoem
queoônibus
ficou parado,
após
manobrarem
1 - Primeiro
pontoemque
ocriminoso parou
oônibus, na
diagonaldaponte,
nosentido rio
3 - Bloqueio
de policiais
quebarrou
oavançode
veículos pela
ponte
39 reféns ( 38 passageiros eomotorista)
arma
falsa
Faca taser garrafas
petcom
gasolina
Distância máxima para um disparoser letal
Até 900 m
80 m
Distância aproximadaque osniperestavadosequestrador
Comofoiaação Liberaçãoderefém

Free download pdf