Psique - Edição 156 (2019-02)

(Antfer) #1
psique ciência&vida 25

Daniele Vanzan é psicóloga e especialista em Psicologia Jurídica. Formou-se posteriormente em Terapia
de Vida Passada (Terapia Regressiva) e Constelação Sistêmica. Atualmente, atende e ministra cursos para
terapeutas interessados nessas áreas de atuação. Autora de dois livros infantis pela Editora Boa Nova: Não
Consigo Desgrudar da Mamãe, que aborda a ansiedade de separação, e Eu Sou o Rei de Todo o Mundo,
que fala sobre a problemática das crianças que têm dificuldade de aceitar limites.

Somente quando a pessoa rompe com conceitos


distorcidos e aceita que sozinha não está dando conta


das transformações que precisa fazer, para deixar


de sofrer, o tratamento psicoterápico obtém êxito


IMAGENS: SHUTTERSTOCK

Por Daniele Vanzan


MUDANÇA OU


ACEITAÇÃO?


Q


uando falamos em
psicoterapia, o
primeiro concei-
to que nos vem à
mente é o de mu-
dança. Mudança de valores, de cren-
ças limitantes, conceitos antigos,
expectativas, perspectivas, mudança
de um comportamento indesejado,
de emprego, de parceiro etc.
Mudança do que traz dor e so-
frimento para o que trará paz e sa-
tisfação. E, ainda assim, mudanças
muito difíceis de serem realizadas
com apoio e quase impossíveis se
feitas sozinhas.
Até para que o pacien-
te sofrido consiga buscar
ajuda que tanto necessita
na psicoterapia, há que
se ter uma mudança de
paradigma e mentalida-
de da população. Já que
muitos aprendem coisas
do tipo: “precisar de aju-
da é sinal de fraqueza” ou

que “homens não choram” ou ainda
que “psicólogo é coisa de maluco”
e por aí vai... E ainda ouvimos e le-
mos afirmações de que um proces-
so terapêutico equivale a um chopp
num bar ou a uma boa viagem com
os amigos. Antes fosse simples as-
sim... Ambos são fantásticos – bons
momentos com amigos e terapia –,
mas um não exclui a necessidade do
outro ocorrer. Talvez, se assim fosse,
não veríamos cada vez mais pessoas
doentes da alma; machucando-se
uns aos outros na busca de coisas
que, por fim, acabam não trazendo
sentido para sua existência.
Somente quando a pessoa muda
ou rompe com esses conceitos dis-
torcidos e aceita que sozinha não está

dando conta das mudanças que pre-
cisa fazer, para deixar de sofrer, essa
procura ocorre e o tratamento psico-
terápico finalmente se dá. E quando
isso ocorre é comum escutarmos re-
latos, carregados de arrependimento,
do tipo: “ah, por que não procurei
ajuda antes?” ou “se eu soubesse que
ia me ajudar assim, não teria enrola-
do tanto tempo até procurar ajuda”
ou mesmo “não precisava ter sofrido
tudo isso sozinho”.
E vemos essas pessoas chegando
para a psicoterapia num estado deplo-
rável, já no limite de suas forças. Cla-
ramente trazidas pela dor excessiva e
insuportável e depois de terem ficado
longo tempo tentando administrar so-
zinhas suas dores e seus conflitos.

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