Psique - Edição 156 (2019-02)

(Antfer) #1
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O consciente positivo


Necessitamos ir além das defesas pensantes se


desejamos romper com as rígidas repetições


que nos alinham no sofrer. Na vida é preciso


fazer o luto da onipotência, permitindo indagar


opensamento, aceitando a condição faltante


Ref lexos


N


o segundo modo de pensa-
mento, o reflexivo, que visa re-
flexos do interno, que desacalenta e
cria movimentos pelos furos existen-
tes, o sujeito se coloca incomodado
e encara o ato, vai ao fazer, se vira,
assume-se como senhor, em parte,
de sua casa, arca com as consequên-
cias, responde aos efeitos, responsa-
biliza-se por mudar o que, na outra
lógica estaria fadado a, abandona a
queixa e parte rumo à tentativa que
soluciona, estando, assim, ativo na
atuação que nasce de um pensamen-
to e passivo perante o resultado, pois
tudo pode acontecer, não se sabe o
que virá, como virá e de onde, mas
não objetaliza-se recuando do viver.
Em ambos os modos de pensar
temos ilusões que o sujeito cria, uma
do alcance da possibilidade castrada
e outra de que forças maiores reser-
vam vanglórias a si. A ilusão é uma
medida paliativa que nos habita des-
de cedo na vida. Em uma ilusão, na
da vanglória que ele tanto merece, e

avaliado na singularidade. Para ter
ilusão é preciso ter alguma história.
Podemos tomar a ilusão como uma
das formações distorcidas do desejo:
“Quando digo que todas essas
coisas sã o ilusõ es, devo definir o sig-
nificado da palavra. Uma ilusã o nã o
é a mesma coisa que um erro, nem
tampouco um erro. [...] O que é
caracterí stico das ilusõ es é o fato de
derivarem de desejos humanos. [...]
As ilusõ es nã o precisam ser necessa-
riamente falsas, ou seja, irrealizá veis,
ou em contradiç ã o com a realidade”
IMAGENS: SHUTTERSTOCK Freud, 1927).


cria justificativas racionais para tal,
a felicidade em seus pedaços está
no pensamento de que dará certo e
pronto, fala por ânsia fantasmagóri-
ca. Na outra ilusão, a de pensar que
nem tudo pode e por isso deve estar
apto a viver lutos se der errado, a
felicidade é uma aposta que poderá
surgir ou não nos pedaços das reali-
zações deste porvir. De todo modo,
a ilusão nos move da imagem está-
tica a um drama e por esse drama é
que o ser humano ilude a si mesmo,
o que não significa ser um erro, não
é isso. É um arranjo que deve ser

O PESSIMISMO
FILOSÓFICO DE
SCHOPENHAUER

PARA SABER MAIS


A


rthur Schopenhauer (1788-1860)
foi um filósofo alemão con-
temporâneo que ficou conhecido,
principalmente, pelo seu forte pes-
simismo filosófico. No entanto, foi
em suas viagens que Schopenhauer
começou a filosofar a respeito da
existência humana e dos problemas
do homem. Conseguiu entrar na Fa-
culdade de Comércio na cidade de
Hamburgo, em seu país natal, mas logo
depois abandonou o curso. Ainda sem ter certeza sobre o que deveria fazer em
sua vida profissional, ingressou no curso de Medicina na Universidade de Gottin-
gen, também na Alemanha, e depois ainda chegou a transferir o curso para Filo-
sofia, na cidade de Berlim. Finalmente, Schopenhauer se encontrou nos estudos
de Filosofia e mais tarde fez doutorado nessa área. Sua tese “A quádrupla razão
do princípio de razão suficiente” foi escrita em 1813. Empenhado em suas ideias
filosóficas, escreveu uma de suas obras mais marcantes e emblemáticas: O Mundo
como Vontade e Representação, publicada em 1818.

O inconsciente é dinamizado por processos
primários que escapam à lógica do
tempo cronológico, à realidade externa, à
caracterização de bem e bom

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