C A P Í T U L O 1 1
NÃO EVITAM
FICAR SOZINHAS
Todos os sofrimentos do homem derivam de não ser capaz de se sentar sozinho em uma sala
em silêncio.
- BLAISE PASCAL
Vanessa tinha pedido ao seu médico que lhe receitasse um remédio para dormir, mas
ele recomendou que ela tentasse a terapia primeiro. Apesar de não estar certa de como isso
pudesse ajudar, ela concordou e veio me procurar. Ela explicou que, à noite, não conseguia
fazer sua mente parar de funcionar. Apesar de estar exausta, com frequência ficava acordada,
a cabeça a mil por hora depois de ter se deitado para tentar dormir. Às vezes ficava em dúvida
sobre certas coisas que tinha dito durante o dia e, outras vezes, se preocupava com todas as
tarefas que tinha que fazer no dia seguinte. De vez em quando, ela tinha tantos pensamentos
na cabeça ao mesmo tempo que nem sabia ao certo no que estava pensando.
Durante o dia, Vanessa não relatava qualquer pensamento preocupante. Trabalhava
como corretora de imóveis. Seus dias eram corridos e, muitas vezes, longos demais. Quando
não estava oficialmente a serviço, podia ser encontrada jantando com amigos ou fazendo con-
tato com outros jovens profissionais. A linha entre trabalho e lazer não era muito clara, já que
ela recebia diversas indicações pelas mídias sociais e por diversos grupos dos quais fazia par-
te. Ela adorava seu estilo de vida ativo e gostava de estar em movimento constante. Seu tra-
balho envolvia muito estresse, mas Vanessa se sentia realizada e tinha muito sucesso nas
vendas.
Quando perguntei quanto tempo ficava sozinha e com que frequência se dava uma opor-
tunidade para se sentar e pensar, ela respondeu: “Ah, nunca. Não quero perder um segundo
da minha vida sem ser produtiva.” Quando sugeri que a razão pela qual lutava para desligar a
mente à noite pudesse ser o fato de que ela não dava a seu cérebro o tempo necessário para
processar as coisas durante o dia, a princípio ela riu. E retrucou: “Não é isso. Tenho muito
tempo para pensar durante o dia. Penso em muitas coisas ao mesmo tempo.” Expliquei a ela
que seu cérebro precisava desacelerar, precisava encontrar uma chance de relaxar. Então
sugeri que ela separasse algum tempo para ficar sozinha diariamente. Vanessa não estava
convencida de que a solidão pudesse ajudá-la a dormir melhor, mas concordou em fazer a
experiência.
Discutimos as várias maneiras como ela podia passar algum tempo sozinha com seus
pensamentos. Ela concordou em escrever um diário por pelo menos dez minutos antes de ir
para a cama, sem distrações – sem televisão, celular ou rádio tocando no fundo. Quando vol-
tou, na semana seguinte, disse ter achado que o silêncio era um pouco desconfortável, mas
que gostara de escrever e achava que isso a havia ajudado a dormir mais rápido.
Nas semanas seguintes, ela tentou diversos tipos de atividades, inclusive meditação e
exercícios de estado de presença. Para sua surpresa, descobriu que os poucos minutos de
meditação pela manhã eram um dos pontos altos de seu dia. Além disso, também contou que
sentia que sua mente estava “mais quieta”. Ela continuou a escrever em seu diário por sentir
que isso dava vazão para desembaralhar o que se passava em sua cabeça, e a meditação lhe