C A P Í T U L O 7
NÃO FICAM PRESAS AO PASSADO
Não curamos o passado ficando presos nele. Curamos o passado vivendo plenamente no
presente.
- MARIANNE WILLIAMSON
Gloria, 55 anos, era muito trabalhadora e foi aconselhada a procurar terapia depois de
dizer a seu médico que estava extremamente estressada. Sua filha de 28 anos tinha acabado
de voltar a morar com ela. Desde que saíra de casa aos 18, voltara para a casa da mãe pelo
menos uma dúzia de vezes. Em geral encontrava um novo namorado e, em questão de se-
manas, senão dias, ia morar com ele. Mas nunca dava certo e ela sempre voltava para casa.
A filha de Gloria estava desempregada e não se esforçava para procurar trabalho. Pas-
sava os dias assistindo à TV e navegando na internet. Não se dignava a ajudar nas tarefas
domésticas nem mesmo limpava o que ela própria tinha sujado. Gloria disse que se sentia
como se estivesse oferecendo serviços domésticos e de hotelaria, mas sempre recebia bem a
filha quando ela voltava.
Pensava que dar à filha um lugar para morar era o mínimo que podia fazer. Não propor-
cionara a ela a infância que muito provavelmente merecera e admitia que não tinha sido uma
boa mãe. Depois de se divorciar, Gloria tinha namorado diversos homens, e muitos deles não
eram bons exemplos. Ela agora entendia que investira muita energia saindo para beber e na-
morando em vez de ser uma boa mãe, e achava que seus erros eram a razão pela qual a filha
estava numa situação tão difícil agora. Desde o início estava claro que Gloria sentia vergonha
pelo jeito que se comportara como mãe, o que a levou a mimar a filha agora que ela era adul-
ta. Grande parte do estresse de Gloria vinha da ansiedade em relação ao comportamento ima-
turo da filha. Ela se preocupava com o futuro dela e queria que ela arrumasse um emprego e
fosse independente.
À medida que conversávamos, Gloria ia reconhecendo que sua vergonha e culpa esta-
vam interferindo em sua capacidade de ser uma boa mãe naquele momento. Ela precisava
perdoar a si mesma e parar de ficar presa ao passado se quisesse seguir em frente e fazer o
que era melhor para a filha. Quando pedi a ela que considerasse a probabilidade de que um
dia sua filha simplesmente acordasse e começasse a se comportar de forma responsável, da-
das as condições atuais, Gloria admitiu que isso não aconteceria, mas não sabia o que fazer.
Nas semanas que se seguiram, analisamos como Gloria via o passado. Sempre que
pensava na infância da filha, tinha pensamentos como: Sou uma pessoa tão ruim por não ter
sempre colocado as necessidades de minha filha em primeiro lugar ou É minha culpa que ela
tenha tantos problemas. Examinamos seus pensamentos e, aos poucos, Gloria entendeu co-
mo sua autocondenação influenciava o modo como tratava a filha no presente.
Aos poucos, Gloria começou a aceitar que, embora não fosse a mãe ideal, ficar se pu-
nindo por isso hoje não mudaria o passado. Também começou a reconhecer que seu compor-
tamento atual não estava ajudando a consertar as coisas, ao contrário, estava contribuindo
para o comportamento autodestrutivo da filha.
Armada com sua nova atitude, Gloria criou algumas regras para a filha e impôs limites.
Disse que ela poderia ficar em sua casa apenas se realmente estivesse procurando emprego.