IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

panorama político interno, ao alvorecer do governo Geisel, era de promissoras medidas de
caráter revolucionário, pelas quais nos batemos em março de 1964. A primeira fala do presidente,
em reunião ministerial,' confirmou as esperanças de total restauração democrática. Aludiu ao
fortalecimento da empresa privada, ao combate à inflação, à melhor distribuição de rendas e a outras
providências indispensáveis à normalização pretendida. Disse, em relação aos instrumentos
excepcionais: "Almejo vê-los, não tanto em exercício duradouro e freqüente, antes como potencial de
ação repressiva ou de contenção mais enérgica e, assim mesmo, até que se vejam superados pela
imaginação política criadora, capaz de instituir, quando for oportuno, salvaguardas eficazes e..."



  1. Em março de 1974.


Era uma orientação acertada, porque a Democracia, conquanto tolerante, não pode ser suicida.

Um avanço deste pensamento - do meu ponto de vista, extemporâneo - no sentido de concessão
de maiores liberdades político-partidárias, verifica-se no discurso à Arena, em agosto de 1974,
quando surge, como um milagroso remédio, o vocábulo "distensão" Vivia o governo momentos de
euforia, próprios de dirigentes que se superestimam e se julgam capazes de solucionar, através de
inventivas e mágicas fórmulas, os mais graves e complexos problemas, olvidando a análise serena e
profunda de suas causas. A marcha dos acontecimentos mostraria quão açodada fora aquela
declaração. Estas duas manifestações presidenciais motivaram interpretações diversas pelas
correntes revolucionárias.


Previa-se, ainda assim, uma fase de absoluta fidelidade aos ideais da Revolução. O futuro diria,
porém, da precariedade desta previsão otimista.


Começaram, no entanto, a espocar as reações: um deputado federal insulta, em declarações
públicas,2 o chefe do governo de uma nação amiga, presente ao ato de posse do presidente Ernesto
Geisel. O governo, desconhecendo a provocação, esqueceu a legislação excepcional para processá-
lo pela Lei de Segurança Nacional, visando à normalidade política e ao apreço do Legislativo.
Agitam-se os estudantes e abundante panfletagem é lançada na área estudantil, incitando os jovens à
luta pelos Direitos Humanos e à repulsa aos AI-5 e Decreto 477. Abre-se, particularmente em São
Paulo, virulenta campanha, dita "em defesa dos presos políticos>, contra os órgãos de segurança. A
imprensa, a Igreja, a Ordem dos Advogados do Brasil e o MDB dela participavam. Os comunistas,
pelo seu órgão oficial, o jornal clandestino Voz Operária, instigam este comportamento e, valendo-se

Free download pdf