IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

ulgo de grande interesse, para avaliação do ambiente em que vivi, mencionar fatos ocorridos
em circunstâncias e locais vários e, aparentemente, desvinculados de eventos da maior importância
que tenham merecido referência especial, a fim de que possamos aquilatar dos preceitos morais e
éticos usados pelos homens que deles participaram. Coloco-os, para melhor situá-los no tempo, ao
fim de cada uma das partes anuais. Muitos deles, acontecidos nas sombras palacianas, explicam as
razões dos grandes acontecimentos. Embora nos pareça paradoxal, é, por ironia, justamente nos
penumbrosos arquivos que os pesquisadores encontram a luz da realidade histórica.


A TRANSFERÊNCIA DO GENERAL ARIEL


Em julho, por existirem cargos de generais a preencher, na guarnição de Brasília, foram planejadas
algumas modificações e transferências em grandes comandos. Entre as movimentações previstas
estava a do generalde-divisão Ariel Pacca da Fonseca - Diretor de Formação e Aperfeiçoamento -
que, por sua antigüidade de posto, devia ser deslocado para uma vice-chefia de departamento.


Comuniquei ao general-de-exército Antonio Jorge Correa - Chefe do Departamento de Ensino e
Pesquisa - a minha intenção de propor o ato ao Presidente da República.


Cabe, aqui, um esclarecimento sobre a movimentação de oficiais. Nunca qualquer oficial -
superior ou general - foi movimentado pelo ministro sem que recebesse uma participação prévia.
Aos generais, fazia eu questão de enviar-lhes radiogramas pessoais, antecipando-lhes o ato de
transferência. Evitava-se, assim, as surpresas de comandantes que só tomavam conhecimento de
movimentações, suas e de subordinados, pelo noticiário da imprensa, fatos muito comuns noutros
tempos. Era, além de tudo, uma prova de consideração e respeito aos meus colegas.


Tinha e tenho o general Ariel Pacca em excelente conceito. Oficial digno e capaz, vivendo para o
Exército e a família, respeitado pela lealdade de suas atitudes e o sentido idealista de seu
comportamento revolucionário, decidiu, contudo, o general Ariel - em carta redigida em termos
elevados - solicitar sua transferência para a reserva do Exército.' Impelia-o a isto a convicção de que
sua esposa - vítima de pertinaz enfermidade - agravaria em Brasília o seu estado de saúde. Não
queria perder a cooperação do general Ariel; indiquei-o, por conseguinte, para comandar a 2á
Região Militar. A proposta não foi, no entanto, do agrado do presidente, dado que não pensávamos,
inteiramente, do mesmo modo. Dissentiu da indicação, não julgando interessante permanecesse o
general Ariel no serviço ativo. Disse-me textualmente:

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