- É o dono da verdade! Vai contestar o ministro! Você vai torcer a orelha e não sairá sangue!
Finalmente, depois de considerações, de parte a parte, o decreto foi assinado.
Este episódio jamais teria sido ventilado, não fosse seu desdobramento posterior. Veremos,
então, como, quando a ele novamente me referir em 1976, para um mesmo fato os padrões de ética
são diferentes.
O MICROFONE NA SALA DO PRESIDENTE
Durante o segundo semestre, em data que não posso precisar, reuni em minha residência, para jantar,
alguns amigos, entre os quais se encontrava o então coronel Sebastião Ramos de Castro, chefe da
Agência Central do Serviço Nacional de Informações.
Mostrava-se o coronel Castro preocupado com uma ocorrência verificada naquele dia no palácio
do Planalto, a qual me narrou, na presença de dois oficiaisgenerais. Ei-la, em síntese:
Um de seus oficiais, daAgência Central, precisara realizar uma tarefa no palácio do Planalto e
passara a parte da manhã naquele local. Por ocasião do almoço, como estivessem quase todas as
dependências vazias, penetrou na sala de despachos do Presidente da República, desejando ouvir um
pouco de música, enquanto aguardava a reabertura do expediente. Ligou o aparelho de rádio ali
existente e sentou-se na poltrona mais próxima. O que ouviu deixou-o estarrecido. Reproduzia-se -
palavra por palavra - um diálogo entre o Presidente da República e um de seus ministros de Estado,
em audiência concedida naquele dia.
O oficial, regressando à Agência Central, comunicou o fato ao seu chefe, coronel Castro. Ambos,
surpreendidos, especularam sobre o assunto e decidiram proceder, após o término dos trabalhos
administrativos, a uma vistoria no gabinete presidencial. Realizada a inspeção, foi realmente
encontrado um gravador - não me recordo se sob a mesa presidencial ou nas proximidades. O evento,
em todas as suas minúcias, foi relatado às autoridades responsáveis pela segurança do salão de
despachos. Não soube se o presidente tomou conhecimento das buscas e de seus resultados,
entretanto, parece-me lógico que tenha sido informado. A verdade, porém, é que nenhuma medida
transpirou quanto à retirada do microfone ou sobre censura, no mínimo, aos que o colocaram.2
Conversações eram devassadas, pareceres dos ministros desvendados e seus diálogos,
desenvolvidos na base de irrestrita confiança, ouvidos e, talvez, criticados por terceiros.
O que se pretendia com isto? Ter elementos para, em situações especiais, pressionar ou
desprestigiar os ministros? Era julgar mal os ministros que, certamente, desconheciam a existência de
tal aparelho do qual, antes, jamais ouvira falar.
Meses depois destes fatos, disse-me um político paulista ter sabido que o presidente gravava