IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

alastravam-se inevitavelmente pelo passado, em que Mamede vivera muitas experiências
revolucionárias. Fatos interessantes eram narrados com minúcias, em linguagem agradável. Ouvia-
os, sempre, com todo o interesse; era a evocação da História por um homem que ajudara a fazê-la.


Numa destas conversações, contou-me Mamede que, em certa ocasião, fora procurado pelo
governador do estado do Pará, coronel RI Jarbas Passarinho, de quem era amigo, que estava
indignado com o comportamento do prefeito de Belém, coronel RI Alacid Nunes, candidato a
substituí-lo no Executivo estadual. Não obstante estar apoiando sua candidatura, pretendia romper
com Alacid, porque discordava de seu procedimento, por ser condenável e anti-revolucionário. O
móvel da questão estava na circunstância moralmente desabonadora de o candidato, para solucionar
o angustiante problema das despesas com a alimentação dos eleitores convencionais, no dia da
votação, ter aceitado do Chefe do Serviço Nacional de Informações - general Golbery do Couto e
Silva - quantia em dinheiro, remetida em cheque bancário.


A indagação de Mamede - lógica e inevitável - veio de imediato:


  • Como soubera disso?


Respondeu Passarinho que o próprio Alacid Nunes, rejubilando-se por já ter contornado todos
os obstáculos, mostrara-lhe o cheque, tendo-lhe feito ele, no mesmo instante, acre censura.


Prosseguindo na narrativa, Mamede aludiu às dificuldades para evitar o rompimento público dos
dois homens, o que só conseguiu mostrando quão pernicioso seria para uma revolução, ainda no
nascedouro, um escândalo desta espécie. No entanto, ao que se informara, os dois cortaram relações.


Comentando o fato naquela ocasião, considerei bastante elogiável a atitude de Jarbas Passarinho.

Ministro do Exército, recebi com satisfação, em meu gabinete, visitas de cordialidade do
senador Jarbas Passarinho, que serviram para fortalecer uma simpatia recíproca.


Por tudo isso, quando o general João Gomes apresentou-me o nome do orador escolhido, aprovei
a indicação, porquanto nada tinha a dizer em contrário.


O convite foi transmitido ao senador Passarinho e a notícia divulgada com certo alarde na
imprensa, tomando vulto em todo o país.


Alguns dias depois da difusão, telefonou-me o general Hugo de Andrade Abreu para transmitir
uma mensagem do presidente Geisel, relativa à indicação do orador anunciado para as
comemorações do Dia da Artilharia.


O presidente, disse ele, não queria que o senador Jarbas Passarinho fosse o orador daquela festa
de artilheiros; fizesse eu tudo para evitar tal coisa acontecesse. Por que um oficial da reserva da lá
Classe e, além de tudo, político? Via, na indicação e na anuência do senador ao convite uma manobra
política, já que se debatia no Congresso a escolha das lideranças da Arena. Não lhe agradava ter

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