Autorizado, interfere, nesta ocasião, o senador Francisco Leite Chaves com o seguinte aparte:
Ao nosso ver, dos homens de responsabilidade deste País, há uma coisa extremamente grave,
além da gravidade do desrespeito à vida e à liberdade; há uma gravidade maior para o País: é
colocar o Exército nacional nisto. O Exército é uma organização muito séria; tem que merecer o
respeito do País, porque ele não pertence - como já dissemos aqui - nem à UDN, nem ao
Governo e nem ao MDB, mas à Pátria; ele tem que ser intocável. Não se pode colocar uma
corporação de tão altos desígnios num movimento de repressão desses. Veja V.Excia., quando
Hitler praticava crimes tão ignominiosos como esses, ele não usava o Exército; para tanto ele
criou a "SS" e a vestiu de negro para não comprometer as suas corporações. Então, temos que
fazer tudo para que o Exército nacional se afaste de uma situação dessa natureza, para que
determinados chefes não confundam os seus propósitos e desmandos com esta grande corporação
nacional. De forma que está havendo, de parte do próprio povo, um receio em relação aos
desígnios e ao comportamento desta corporação que tem de ser preservada, porque ela está
acima de muitos desígnios. Isto é o que nos parece extremamente sério, extremamente
comprometedor, inclusive para a segurança. E o Senhor Presidente da República, recentemente,
e em jornais de hoje, em manchetes, declara: "Este é o País da paz, do respeito, este é o País
onde não existe o ódio." Veja, V.Excia., nestes últimos tempos só temos assistido ao ódio, à
violência e à insegurança. De forma que estes homens, que resolveram proceder desta maneira,
assumam a responsabilidade da ditadura. Antes, era muito fácil governar o País, porque havia a
possibilidade de crédito no exterior. Acho, hoje, muito difícil governar-se um país que está
devendo além dos limites da possibilidade de pagamento. Se o desejo é apenas continuar
indefinidamente no Poder, que se usem outros meios; mas não este, de destruir, inopinadamente,
vida de inocentes; ou, se são culpados, que as pessoas tenham o direito de ser julgadas de acordo
com a lei. Muito obrigado a V.Excia.'
A linguagem adotada até então pelos oradores, conquanto candente e agressiva ao governo -
própria dos tribunos oposicionistas - imprimia aos seus protestos e imputações um caráter geral; não
era, portanto, insultuosa, nem dirigida, especificamente, a qualquer instituição ou setor públicos.
Servira-se do pretexto para acirrar ataques ao regime.
O aparte do senador Leite Chaves não poderia ser considerado da mesma maneira. Disfarça o
insulto ao Exército com ardilosas palavras de elogio, mas fere a fundo a honra de nossa instituição e
a dignidade militar ao proferir o período: "Veja V.Excia., quando Hitler praticava crimes
ignominiosos como esses, ele não usava o Exército; para tanto ele criou a `ss' e a vestiu de negro
para não comprometer suas corporações."
Temendo, talvez, não ter sido bem explícito, insiste em suas injúrias: recomenda afastar o
Exército de situações daquela natureza; acusa chefes de confundirem seus propósitos e desmandos
com nossa instituição - numa referência inconfundível ao Comandante do II Exército - e insinua estar
havendo um receio do povo em face dos desígnios e do comportamento do Exército. Esta insinuação
era gravíssima porque predispunha a opinião pública contra o Exército e, por extensão, contra as
Forças Armadas.