Ao ler o seu aparte só nos ocorria uma indagação: teria ensandecido o senador Leite Chaves?
Enquanto seus colegas, embora ardorosos na defesa de seus temas e pontos de vista, conservavam-se
- pela austeridade de seus cargos - na prudência que as primeiras informações sobre um
acontecimento sempre aconselham, via-se o senador paranaense investir contra o Exército com rudes
e aviltantes palavras.
Ocorreu-me a idéia, admitida como lógica por vários colegas, que este comportamento do
senador resultara de ressentimentos acumulados, em virtude do procedimento das autoridades
militares no inquérito policial do Paraná. O processo estava ainda em curso, e a inquietação rondava
os implicados.
O senador Leite Chaves, político experimentado, ao pronunciar-se no Senado, esqueceu-se de
que a precipitação e a prevenção são péssimas conselheiras dos homens emocionais.
No dia 29 de outubro, pela manhã, ao tempo que aguardava uma reunião com generais, prevista
para aquele dia, fui procurado pelo tenente-coronel Foschiera, meu assessor parlamentar. Estava o
tenente-coronel muito preocupado com as ocorrências do dia anterior no Senado, cuja divulgação, já
procedida, iria provocar reações imprevisíveis. Mostrou-me um destaque (cópia da sessão)' com os
pronunciamentos da véspera. Li e reli o aparte de Leite Chaves e compreendi as desagradáveis
conseqüências que traria esta atitude arrebatada do senador.
Entretanto, a luva tinha sido atirada; era uma questão de honra levantá-la!
Embora presentes os generais, não dei início à reunião. Todos sabiam dos discursos insultuosos,
mas não conheciam seus textos. Fiz, então, ler as declarações dos senadores relacionadas com os
eventos de São Paulo e publicamente difundidas. Relidas por alguns e interpretadas por outros,
assomou-nos grande indignação em face da violência da linguagem de quem dizia falar contra o
arbitrarismo, pela leviandade das calúnias engendradas por um senador da República e perante a
intriga que se fazia entre o povo e o Exército, lançando-se às multidões o germe de uma luta de
classes.
Foi unânime o assessoramento dos generais presentes: o ministro deveria ir, imediatamente, ao
Presidente da República e descrever-lhe, em minúcias, os fatos, analisando-lhes as prováveis
conseqüências. Além disso, solicitaria a cassação do referido senador, considerado por todos como
inimigo do Exército e do regime revolucionário.
Concordei com a sugestão e os generais, reunidos, mantiveram-se no quartelgeneral, esperando a
decisão presidencial.
Liguei-me telefonicamente com o general Hugo Abreu e solicitei ao presidente uma audiência
especial para tratar de assunto de extrema relevância. Atendido, em poucos minutos cheguei ao
palácio do Planalto.