queria o levantamento das sanções.
Ouvira eu falar em Brasília, em rodas militares ligadas ao Estado-Maior das Forças Armadas e à
Casa Militar da Presidência da República, que a atitude brasileira naquela reunião seria de
abstenção, modificando uma decisão inicial do Presidente da República que a desejava de absoluto
apoio à suspensão das sanções a Cuba. Esta mudança de orientação decorrera, ainda segundo as
mesmas fontes, de trabalho cauteloso e persistente do general Hugo de Andrade Abreu, secretário do
Conselho de Segurança Nacional. Posteriormente, outras fontes confirmaram esta informação.
Estes esclarecimentos, extra-oficiais, eram dados em decorrência de comentários sobre notícias
da imprensa relativas ao assunto.
Pode parecer estranho que uma decisão de importância para a segurança do país tenha sido
tomada sem que fossem auscultados, pelo menos, os ministros militares. Eu não o fui e se algum de
meus colegas o foi, não tive conhecimento de tal fato. A estranheza explica-se pelo desconhecimento
que se tem do feitio oligárquico e do temperamento autocrático do senhor Ernesto Geisel. O
presidente atuava em compartimentos estanques; assim os problemas econômicos eram tratados no
Conselho de Desenvolvimento Econômico, os de política externa com o Ministro das Relações
Exteriores, os assuntos militares, separadamente, com o ministro Chefe do Estado-Maior das Forças
Armadas ou com cada um dos ministros militares etc. As reuniões ministeriais eram, por este método
de trabalho, muito poucas.
Compreende-se, por isso, por que as decisões ficavam restritas a um pequeno grupo. Os demais
componentes do Ministério conheciam-nas através de comunicações escritas, informações laterais ou
por divulgação pública -já fatos consumados. Falo, desejo bem elucidar, pelo que ocorria comigo,
todavia, pelas perguntas que recebia dos meus pares, creio ter sido este o quadro geral.
Ao se iniciarem os trabalhos em Quito, o chanceler brasileiro, com evidente objetivo de protelar
algumas decisões, sugeriu o recesso da reunião por três meses, a fim de tornar possível um melhor
estudo sobre os problemas ali apresentados, sugestão que não foi aceita.' O Chile e o Uruguai
pediram-no por tempo indeterminado.
O Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar), assinado em 1957, no Rio de janeiro,
estipulava em seu Artigo 17 as decisões que seriam tomadas por maioria de dois terços, o que
vinculava a aprovação ou rejeição de qualquer proposta à existência mínima de 14 votos.
O Brasil, como já foi dito, absteve-se de votar e o bloqueio político e econômico foi mantido. A
favor do fim do bloqueio votaram somente 12 países.'
O Brasil propôs, então, a revisão do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca.7
A imprensa brasileira, em certo momento, assim traduziu palavras de nosso chanceler: "Mas
ninguém pode negar, e nenhum país o fez até agora - prosseguiu o ministro - que houve intervenção e