califa Abd-El-Malek, atingiu as margens do oceano Atlântico, na guerra sem tréguas para implantar o
islamismo.
Até o século XIX, entretanto, no sul do deserto do Saara, a exploração do continente negro
limitou-se ao litoral ou à penetração investigadora nos cursos de alguns rios. A grande investida
colonialista sobre a África negra ocorreu, exatamente, naquele século, estendendo-se pelos primeiros
anos do seguinte, quando as potências européias, impulsionadas principalmente por motivos
econômicos e políticos, apossaram-se dos territórios africanos, sob o frágil e desmoralizado pretexto
de levar a civilização às nações tribais que, como primitivas e atrasadas, dela muito se
beneficiariam. Este regime colonial perdurou, praticamente, até depois do término da Segunda
Conflagração Mundial, quando começaram a dissentir os vencedores.
As coligações, após a derrota do inimigo comum, fragmentaram-se no choque de interesses,
mantidos adormecidos pelos coligados em face de perigo maior. A vitória aliada naquele conflito
liberou reações, divergências e incompatibilidades que acabaram situando em campos opostos os
Estados Unidos e a Rússia. O confronto entre a Democracia e o Totalitarismo, na luta pelo poder e
domínio do mundo, surgiu em todos os setores da atividade humana. Os comunistas, associando
habilmente técnicas de comunicação social e subversão, criaram o condicionamento mental de que as
atitudes e posições antimarxistas são frutos do radicalismo, estão em desacordo com a evolução dos
povos e encontram-se, portanto, ultrapassadas. Desmoralizaram os órgãos de inteligência oponentes,
forçando a sua desmobilização parcial ou total, diminuindo-lhes, em qualquer caso, a eficiência.
Invadiram a semântica, deformando o sentido dos termos e confundindo mesmo, com as mutações de
suas acepções, indivíduos de regular grau de instrução. Tiveram, nesta ardilosa tarefa, o auxílio da
pueril ingenuidade que jorra em abundância das fontes democráticas. Os órgãos de informações
russos passaram, deste modo, a atuar livremente em todo o mundo. Henry Kissinger, focalizando a
crise e os problemas iranianos, citou como uma das razões que os motivaram o colapso da
capacidade dos serviços de inteligência norteamericanos.17A KGB, provavelmente, trabalhou
sozinha no Irã.
A descolonização inevitável foi uma das conseqüências da Segunda Guerra Mundial e a década
de 1960 a época áurea de sua concretização. Somente na África negra cerca de 40 países adquiriram,
de uma forma ou de outra, sua independência. A África, mais uma vez na História, tornar-se-ia
cenário de uma luta inexorável, agora para a imposição de uma doutrina ideológica e de um sistema
político-econômico despótico. Ressurgem, ali, fanatismo e crueldade, nunca inferiores aos dos
árabes de Maomé, e uma ambição desmedida de poder, que supera, de muito, a invasão européia do
século XIX.
Enquanto as potências democráticas e marxistas lutavam pelo controle da região, estes últimos,
em sua marcha para o Ocidente, cravavam nas Antilhas uma ilha socialista e fincavam o pé na
Guiana. Hoje, estão atingindo - fiéis ao princípio geopolítico do domínio das costas opostas-'$ a
borda africana banhada pelo oceano Atlântico.