IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Cuba, Guiana e México.


O voto do nosso embaixador, divulgado pelo Itamaraty, diz em seu item 2: "O voto brasileiro não
é, nem poderia ser, em qualquer hipótese, interpretado como hostil aos judeus ou ao judaísmo.""


Dissociar o sionismo do judaísmo é tarefa impossível, visto que o sionismo está na gênese do
Estado de Israel que é, em essência, o judaísmo.


Nossos órgãos de informações permitiam aos militares acompanhar as conjunturas nacional e
internacional e, além disso, recebia o ministro uma resenha de todos os jornais de Brasília, São
Paulo e do Rio de janeiro, com as publicações de maior interesse devidamente assinaladas. Ficava,
assim, ciente dos fatos ocorridos. Não fosse este sistema de informações muitos acontecimentos
seriam ignorados do ministro, pois, como não me canso de acentuar, era processo normal do
presidente tomar, de acordo com o assunto, decisões em compartimentos estanques, sem comunicá-
las sequer, mesmo que se tratando de matéria de certa importância, aos ministros de outros setores.


Após ter falado ao presidente sobre o reconhecimento da República Popular de Angola, na
mesma audiência, abordei o voto contra o sionismo, informando-o de que a decisão brasileira, de
modo geral, tinha ecoado desfavoravelmente entre os militares, opinião com a qual, pessoalmente,
estava solidário. Fiz-lhe, naquele momento, a indagação:



  • Por que o Brasil, que nunca votou contra os judeus e sempre se absteve, votou, agora, contra o
    sionismo?


Mal acabara de falar, o presidente, abrindo os braços com espalhafato, respondeu:


  • Mas você não sabe o que é o judeu!... Você não avalia o que é o judeu! E os árabes... e a
    questão dos árabes?


E nada mais disse.

Vi na sua resposta uma alusão clara ao problema do petróleo. Repeti-lhe a impressão negativa
que o voto brasileiro causara e, como nada mais havia a tratar, retirei-me.


Cabe, aqui, por oportuna e adequada ao evento, referência à resposta dada pelo Ministro das
Relações Exteriores de Israel, general Moshe Dayan, ao presidente dos Estados Unidos, Jimmy
Carter, quando, em outubro de 1977, o presidente norteamericano tentou pressionar Dayan, mui
provavelmente sob inspiração russa, para que os israelenses aceitassem a presença dos palestinos na
Conferência de Genebra e a existência de uma "entidade" palestina na Ásia.


Dayan considerou totalmente inaceitável a proposta norte-americana; Carter, então, ameaçou-o
com o que julgava seu grande trunfo - não cumprir as promessas de apoio a Israel, o que significava a
suspensão de auxílios, de qualquer espécie, aos israelenses.

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