O ministro Azeredo da Silveira, ouvido pela imprensa ao regressar da Europa, disse sobre o
assunto, textualmente: "Trata-se de um problema polêmico, que envolve uma carga emocional, mas
estou certo de que o nosso voto espelhou um sentimento muito uniforme do povo brasileiro, no
sentido de que no Brasil existe uma só raça. Não poderíamos nunca votar a favor do racismo."38
Foi uma resposta em estilo germânico: disse que fez, mas não por que fez. Poderia - e não lhe
falta inteligência para isto - esclarecer, ao menos, por que o sionismo foi considerado racismo.
Talvez lhe tenham escasseado os argumentos.
Quase dois anos após esta declaração, em 14 de outubro de 1977, a imprensa divulgou
informação,39 que dizia ter transpirado nos meios diplomáticos, com o evidente propósito de
confundir a opinião pública e contestar afirmações que eu tinha emitido, dois dias antes, em
documento público. A informação - um amontoado de inverdades e contra-sensos, apanhados a esmo
- colide com essas declarações do Ministro das Relações Exteriores e não tem o mínimo suporte na
coerência e na realidade dos fatos.
Por uma coincidência, na sessão em que o Brasil votou a favor da mencionada resolução, foi a
plenário da ONU uma proposta para conceder à Organização da Libertação da Palestina o direito de
participar de todas as sessões das Nações Unidas nas quais a Questão Palestina estivesse sendo
debatida. Absteve-se o Brasil de votar; entretanto, a declaração de voto apresentada pelo nosso
embaixador deixou claro que esta posição não implicava qualquer alteração do ponto de vista
brasileiro sobre os direitos do povo palestino. A abstenção foi devida a "questões protocolares".
Consta da referida notícia: "Não podemos reconhecer a ocupação de territórios pela força. É
uma questão de princípios." Pergunto - e o reconhecimento de Angola, com Luanda ocupada
praticamente por cubanos e soviéticos? Além disso, a resolução aprovada referia-se a um movimento
político- religioso, acoimado de racista, e não tratava da violação do princípio de não-intervenção,
eufemicamente disfarçado na frase "ocupação de territórios pela força". Se houve agressão, nas três
guerras do Oriente Médio, não partiu dos judeus.
No momento em que se recorre à História para justificar a abstenção, em Quito e San José,
relativa a Cuba, olvida-se esta ciência para bem compreender o sionismo.
Não acredito que tantas sandices tenham sido transmitidas por homens do Itamaraty, cuja
inteligência e responsabilidade só têm recebido de todos merecidos encômios.
O informante, não tenho mais dúvidas, era um pândego, que se arvorando em funcionário daquele
Ministério, abusou da ingenuidade do jornalista, induzindo-o a publicar tais disparates.
Em 11 de novembro de 1975, a Assembléia Geral da ONU aprovou a resolução que considerava
o sionismo "uma forma de racismo e de discriminação racial". Entre os concordantes estava o Brasil.
É interessante examinar os grupos de votantes - suas tendências, dependências e interesses - no
resultado da votação. Da América, somente quatro países votaram a favor da resolução: Brasil,