Este fato degradante, inadmissível numa nação civilizada, define bem o aviltamento a que fica
sujeito o homem da zona rural, no desamparo das autoridades.
No Nordeste, as oscilações cíclicas da produção de açúcar levaram, nos períodos de crise, os
donos de engenhos a despedirem seus empregados que, morando nos locais de trabalho e tendo
obtido direito ao cultivo de um pequeno trato de terra, quando expulsos, perdiam a moradia e a
subsistência. Ficavam, assim, na mais negra miséria.
As Ligas Camponesas naquela região e as questões de posseiros no Sul mostraram as reações do
camponês às injustiças do meio em que vivia.
A Amazônia, o Eldorado que, na fase áurea da borracha, atraiu as populações nordestinas,
vítimas das secas e de seus males, na busca de melhores padrões de vida, continua a fascinar os
infelizes desprotegidos da sorte.
A ocupação irregular da hiléia brasileira por aventureiros e famílias vindos do Sul, acossados
pela necessidade de sobreviver, ou ali levados pelas irresponsabilidade e ganância de empresas
comerciais na exploração dos recursos naturais daquela área, complicou a solução do problema
fundiário. Os descarados "grileiros" - falsos proprietários de terras - e também autoridades estaduais
e federais procuram, por todos os meios, afastar esses incômodos ocupantes de terras que legalmente
não lhes pertencem. Os invasores resistem às demarcações das glebas que cultivam, unem-se e
tornam-se agressivos.
Há, ainda, a considerar a torpe maquinação dos criminosos grileiros que iludem a ingenuidade
de nossos campônios, vendendo-lhes, sob documentação falsa, lotes de terra. Os compradores,
julgando-se espoliados pelos demarcadores, revoltam-se e defendem pelas armas o que acreditam
ser suas propriedades.
É este o panorama - matizado em cores brandas - no qual se desenvolveram os episódios de
Perdidos, localidade do sul do estado do Pará.
Antes de apreciá-lo quero, à guisa de preâmbulo, mencionar os acontecimentos da fazenda
Capaz, para que se possa melhor estimar os padrões de violência e ódio que regem as disputas e
negociações sobre questões agrárias naquela região.
Todavia, se difíceis são essas situações, gravíssimas tornam-se quando a incitação extremista -
lobo em pele de cordeiro -, mascarada e insidiosa, assenhoreia-se da alma do caboclo para, através
de velhacos argumentos, incutir-lhe na mente que é um pária, perseguido da sociedade e esquecido
da justiça.
A fazenda Capaz, no estado do Pará, próxima de Vila Rondon, pertencia oficialmente ao ex-
coronel da Força Aérea dos Estados Unidos John Weaver Davis, que possuía, igualmente, a