Em última análise, quando no confronto de opiniões os obstáculos tornam-se instransponíveis e a
conciliação impossível, impõe-se ao titular da pasta solidarizarse com o pensamento de sua Força.
Caso não o faça, arrisca-se a ser considerado, no linguajar severo da nossa caserna,
"sargenteante de estrelas" ou, talvez, "lacaio eminente" - na eufêmica linguagem que André Maurois
emprega para definir subservientes ministros de Luís XIV.4
O pensamento político do militar é complexo visto que, além de receber a influência da
subjetividade normal às reflexões, emana de uma personalidade moldada por condicionantes
peculiares a uma formação disciplinar rígida e de mando imperativo. A idéia central, em torno da
qual se desenvolve, é logicamente política, embora possa ter sido gerada por outras causas.
Sem fugir ao tema a que me propus, quero urdir algumas apreciações sobre esse pensamento,
assunto por demais interessante para ser negado à análise dos que desejam acompanhar a evolução
do pensamento militar do Exército e a nossa ingerência nas revoluções.
O ilustre e diligente historiador Edgard Carone, em seu excelente livro Revoluções do Brasil
contemporâneo, ao tratar do fenômeno do "tenentismo"; acha paradoxal que um estabelecimento de
ensino de caráter eminentemente técnico, como a Escola Militar do Realengo, "visando a formação
de oficiais exclusivamente militares com disciplina e respeito pela ordem constituída ... sob
orientação de técnicos que procuravam orientar o Exército para fora da política", formasse uma
geração de revolucionários?
É uma tese que desejo questionar.
A Escola Militar do Realengo, ao contrário de sua antecessora da Praia Vermelha, em cujo
programa didático tinham acentuado destaque as ciências humanas, dando, assim, margem a
cogitações políticas e filosóficas, distribuía em seu curso somente materiais de interesse direto à
profissão e, portanto, à arte da guerra. Não permitia que, sob qualquer pretexto, nele se ventilassem
idéias políticas. O culto da Pátria e a veneração a seus símbolos eram a razão primeira de seus
ensinamentos.
O Exército, que ali preparara seus futuros chefes, afigurava-se-nos como um sólido pilar dessa
Pátria, intérprete e defensor - por tradição e identidade - dos direitos e aspirações de seu povo. Seus
chefes, a farda, os estandartes das corporações e tudo que o evocasse mereciam da nossa parte o
mais profundo respeito.
Nesta mística, fortalecida pela disciplina e hierarquia, enraizou-se-nos a convicção de que o
engrandecimento e a unidade da Pátria alicerçavam-se num Exército forte e prestigiado pela Nação.
Resguardá-lo era o primeiro dever, porque qualquer golpe que atingisse sua estrutura e seus
princípios, por uma reação em cadeia, atingiria, inexoravelmente, a Pátria.
Os jovens que por sincera vocação escolheram a carreira militar, almejando a felicidade de seu