IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

exclusivamente para os problemas administrativos. As questões relativas à sucessão só teriam
cabimento a partir de 1978. Queria que eu, na redação de meu discurso, lançasse um trecho que lhe
permitisse realçar e desenvolver em beneficio desse propósito.


Era, em outras palavras, uma moção de confiança que o presidente pedia-me.

Estava de pleno acordo com o general Geisel de que a questão sucessória deveria ser
procrastinada ao máximo. Os ambiciosos, assediando os quartéis, já se arvoravam em exegetas do
pensamento de militares. Nomes de generais, citados à revelia ou não, davam margem a
especulações. O Serviço Nacional de Informações, muito interessado no controle de atividades desta
espécie, sempre atualizado com os informes - muitas vezes capciosos e dirigidos -, difundia-os
quando de seu interesse. Comentários e boatos sobre a sucessão começavam a tomar a atenção da
tropa, afastando-a de seus deveres precípuos e desgastando-a disciplinarmente. Urgiam medidas que
modificassem esta situação.


As minhas preocupações não eram fantasiosas, guardando muito de concreto e objetivo, como se
deduz do caso que passo a contar.


Os órgãos de informações e informantes diversos assinalaram oficiais da reserva, ligados à vida
política, em permanentes entendimentos com oficiais da ativa que serviam na Vila Militar. Entre
aqueles apareciam com insistente freqüência os nomes dos ex-ministros coronéis José Costa
Cavalcanti e Mario David Andreazza.


Nada de apavorante havia nisto, visto que os oficiais poder-se-iam encontrar, em sua vida
privada, com quem desejassem.


A vigilância, entretanto, nos quartéis era rigorosa para evitar a contaminação política.

O grave ocorreu quando informantes de primeira categoria identificaram, certa noite, num de
nossos quartéis da Vila Militar, o ex-ministro coronel Mario David Andreazza acompanhado de um
general da ativa que pensam ter reconhecido, cujo nome, porém, não ousavam, pelas dúvidas,
enunciar, por ocupar importante cargo no Exército. Dando-me muito bem com o Comandante da 1á
Divisão de Exército, desde os tempos de capitão, aguardei o momento de encontrá-lo para preveni-lo
e pedir-lhe, também, fiscalização maior sobre os quartéis.


Essa oportunidade aconteceu durante a Semana do Exército ou da Pátria, numa recepção dada
pelo Comandante da lá Brigada de Infantaria Motorizada, em Petrópolis.


Aproximei-me do general Walter Pires e coloquei-o a par das informações, dizendo-lhe que,
embora cético em relação às mesmas, se fossem confirmadas eu prenderia os oficiais.


Concluí, assim:


  • Pires, estou apurando com todo o rigor a veracidade destas informações a respeito do

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