patriotismo, foi impregnando gradativamente o Exército de uma mentalidade renovadora, em cujas
aspirações de vanguarda estava a solução dos causticantes problemas que abrasavam a Nação,
sentidos com intensidade nas áreas sociais de que provinham os novos cadetes. Vinham dos mais
longínquos lugarejos, de centros rurais e urbanos, debuxando a mesma melancólica paisagem do
Brasil.
Declarados aspirantes - como oficiais -, comprovaram pessoalmente as lastimáveis condições de
vida, vizinhas da penúria, de seus cabos e soldados, e as dificuldades quase insuperáveis de seus
sargentos para viverem com decência e dignidade. Esse quadro de agruras, a solidariedade humana e
a simpatia da classe deram pujança àquela mentalidade e confirmaram a sua imprescindibilidade.
As oligarquias dominantes, rebaixando o país ao nível colonial, o coronelismo humilhando as
populações pobres, as eleições, realizadas sob pressões governamentais, depurando adversários
vencedores nas urnas, o controle da imprensa e das informações, as restrições dos direitos
individuais, as injustiças sociais e as nebulosas perspectivas de uma crise econômica clamavam por
uma mudança imediata das estruturas vigentes.
O Exército teria de interferir para salvar a Nação da catástrofe que se avizinhava.
Era este, exatamente, o pensamento de uma pequena elite militar que o expressou, em 10 de
outubro de 1913, no primeiro número da revista A Defesa Nacional, que dirigia:
Se nos grandes povos, inteiramente constituídos, a missão do Exército não sae geralmente do
quadro das suas funções puramente militares, nas nacionalidades nascentes como a nossa, em que
os elementos mais variados se fundem apressadamente para a formação de um povo - o Exército
- única força verdadeiramente organizada no seio de uma tumultuosa massa efervescente - vai às
vezes um pouco além dos seus deveres profissionais para tornar-se, em dados momentos, um
factor decisivo de transformação política ou de estabilização social.
A nossa pequena história, bem como a de outros povos sul-americanos, está cheia de
exemplos demonstrativos dessa afirmação.
É debalde que os espíritos liberaes, numa justificada ânsia de futurismo, se insurgem contra as
intervenções militares na evolução social dos povos: é um facto histórico que as sociedades
nascentes têm necessidade dos elementos militares para assistirem à sua formação e
desenvolvimento, e que só num grão já elevado de civilização ellas conseguem emancipar-se da
tutella da força, que assim se recolhe e se limita à sua verdadeira função.
Sem desejar, pois, de fórma alguma, a incursão injustificada dos elementos militares nos
negócios internos do paiz, o Exército precisa entretanto estar apparelhado para a sua função
conservadora e estabilizante dos elementos sociais em marcha - e preparado para corrigir as
perturbações internas, tão comuns à vida tumultuária das sociedades que se formam.'
Os militares, que deram início ao ciclo revolucionário de 1922, foram impulsionados à reação