recaísse sobre moderno material de comunicações, existente no mercado daquele país, em condições
satisfatórias. Tive sempre como princípio não endividar as organizações que dirigia, limitando- me,
mui especialmente, às despesas para atender às necessidades essenciais, que no nosso Exército
poderiam ser chamadas de vitais. O supérfluo não me tentou em época alguma.
Diz o professor Afonso Arinos, quando estuda em excelente livro a civilização brasileira e os
nossos resíduos afio-índios, que "a simplicidade não se confunde com indigência".' Esta feliz
assertiva emerge da mais rudimentar análise da situação da nova capital - Brasília. As obras
faraônicas, o conforto confundido com fausto e a ostentação estavam criando uma mentalidade de
luxo oriental e sorviam torrentes de recursos que poderiam ser aplicados em realizações mais úteis e
necessárias.
Os recursos do Exército deveriam, portanto, ser empregados no essencial, mas nunca no
supérfluo.
A aquisição de material moderno e caríssimo, cujo emprego e manutenção exigiriam novas e
polpudas despesas, só seria admissível em pequenas quantidades, para prover os estabelecimentos
de ensino e assegurar a atualização de nossos graduados e oficiais. Afora isto, somente servia para
exibições em desfiles, nas enganosas apresentações públicas. Como armamento para emprego, no
conjunto do Exército, era deficiente pela exigüidade e proibitivo pelo preço altíssimo da munição e
suprimentos.
Dos abundantes exemplos, o da compra da artilharia antiaérea Oerlikon é bem significativo.
Deste material, aliás excelente, só pudemos adquirir na Itália, onde dispúnhamos de crédito
favorável, número ínfimo de grupos. De elevada cadência de tiro - 1.100 por minuto -,
proporcionavam as rajadas consideráveis despesas, visto que o preço unitário do projétil era
bastante alto. Além da munição havia, também, o problema do suprimento em peças.
A guerra é realmente muito cara e o comércio de armas bastante rendoso.
Do meu ponto de vista, a solução estava na criação da indústria de material bélico, idéia
obsessiva que agasalhava havia muitos anos e que consegui concretizar na Imbel.
Não aceitei, portanto, a oferta norte-americana, que reverteu, segundo soube, em beneficio de
outros ministérios.
Tinha, entre as numerosas preocupações, a de resolver o problema do material do acordo que
nos interessava manter, embora na realidade não nos pertencesse.
Por muitas razões convinha-nos conservá-lo; assim pensava também o meu inteligente Chefe do
Estado-Maior do Exército. Os norte-americanos, no entanto, consideravam-no um verdadeiro peso
morto porque, na evolução quase diária do armamento, o material do acordo não tinha para eles
qualquer serventia militar.