sociedade destes criminosos é uma atividade justa e democrática".
Compreendendo essa disparidade e reconhecendo que, moralmente, essa política só teria amparo
se fosse universal, um deputado republicano - partido contrário ao de Carter - apresentou uma
emenda à lei tornando obrigatórios relatórios sobre todos os países membros da ONU.
Era esse o panorama geral. No nosso quadro particular, o Ministro das Relações Exteriores,
homem avesso aos americanos do norte, estava sempre mais disposto a agravar ressentimentos do
que a atenuá-los. Abandonada a orientação fixada pelo primeiro governo da Revolução e adotado o
pragmatismo responsável e ecumênico, os azedumes entre os diplomatas dos dois países começam a
aparecer com freqüência.
A conturbar mais o ambiente estava a figura do embaixador norte-americano John Crimmins,
diplomata que não fazia jus ao tradicional conceito de negociador hábil. Parecia-me mais um feitor
de fazenda do Arizona do que um representante da maior potência do mundo. Estava arraigado,
ainda, à ultrapassada e insultuosa concepção de que a América Latina era o quintal dos Estados
Unidos. Primava por desfeitear-nos. Já mencionei aqui o caso do pastor Morris e a petulante
exigência que fez ao nosso Ministro das Relações Exteriores. Em maio de 1977, comentava-se entre
militares um radiograma ostensivo do embaixador aos norte-americanos ligados à Embaixada dos
Estados Unidos, captado por uma de nossas estações, no qual aconselhava aos seus compatriotas que
não mantivessem relações sociais com os militares brasileiros, porque estes eram os responsáveis
pela situação difícil em que se encontrava o país. Um colega de Ministério também transmitiu-me
essa notícia. Em encontro com o general Geisel, pouco antes da viagem da sra. Jimmy Carter ao
Brasil, o nosso presidente confirmou o fato, mostrando-se contrariado com o que assistia.
Perguntei-lhe, então, por que não mandava o embaixador Crimmins de volta à sua terra, tirando-
lhe a condição de persona grata. O general Geisel achou a medida impertinente, em vista da próxima
visita da esposa do presidente Carter.
Outro fato que comprovou a antipatia, ou melhor, a hostilidade do embaixador Crimmins pelos
brasileiros foi o do atrito, segundo se disse, violento, entre dois oficiais americanos - o coronel-
aviador Giles e o adido do Exército, coronel Jack Gardner. Ocorreu o incidente, ainda consoante
informações muito seguras, no segundo trimestre de 1977. O coronel Giles teria feito referências
depreciativas e ultrajantes ao Brasil, logo repelidas, com dignidade e coragem, pelo coronel
Gardner. O desentendimento agravou-se pela insistência do primeiro daqueles coronéis em manter as
difamações e do coronel Gardner em refutá-las. Tempos depois, o coronel Gardner foi, antes do
término de sua missão, mandado regressar aos Estados Unidos. Lógico pareceu a todos que as
informações do embaixador não lhe foram favoráveis.
O coronel Jack Gardner era dessa plêiade de excelentes adidos, como os generais Vernon
Walters e Arthur Moura, estimadíssimos pelos oficiais do Exército, que concorreu de modo
excepcional para o fortalecimento dos laços de amizade entre os Exércitos das duas grandes nações
do Novo Mundo.