cadete da Arma de Artilharia cometeu transgressão disciplinar grave que, no julgamento de seus
chefes, era punida com desligamento da Escola e apresentação à tropa, como soldado. Os fatos não
estavam bem esclarecidos - o cadete os negava e as imputações em bases circunstanciais não
convenciam.
Muitos de seus companheiros de Arma intercederam junto aos oficiais, sem obter um resultado
favorável. A insistência nesse propósito agravou a situação, já configurada pelos alunos uma
injustiça. Mantida a ordem de desligamento, alguns colegas e amigos do cadete desligado
apresentaram-se, solidários com ele, para sofrer a mesma pena. O caso empolgou o Corpo de
Cadetes e todos ansiavam por solução comedida e branda.
Comandava naquele ano a Escola Militar, como coronel, o inesquecível marechal José Pessoa
Cavalcanti de Albuquerque, chefe que desejava ver em cada cadete um Bayard, isto é, um homem
"Sans peur et sans reproche".' Cultor dos princípios morais, declarava sonhar com uma Escola que
não precisaria ter muros, pois a ordem de não transpor os seus limites seria a contenção moral
suficiente. Grande brasileiro, inolvidável líder, idealizador de realizações ciclópicas, o coronel José
Pessoa indignou-se com o apoio dado ao aluno acusado e, sentindo medrar a indisciplina, determinou
se estendesse o desligamento aos alunos solidários.
Deu-se, então, um espetáculo grandioso, censurável do ponto de vista disciplinar, mas,
inegavelmente, soberbo quando se pensa na coesão de uma classe: todos os cadetes, tranqüilamente,
sem gritos de histérica euforia nem semblantes de falsa tristeza, por dever de consciência, formaram
para o desligamento.
O bom senso, no entanto, conteve os ímpetos da prepotência e o aluno, pomo da discórdia, foi
perdoado, voltando a Escola à normalidade.
Os cadetes de Realengo, naquele distante dia, pelo estoicismo e grandeza d'alma, mereceram
ostentar a legenda de Bayard e, pela solidariedade fraterna, tornaram sua a romântica divisa criada
por Dumas: "Um por todos e todos por um."
O segundo desses acontecimentos - o empastelamento do jornal Diário Carioca por militares -
foi uma fase da luta travada entre as correntes que encarnavam o pensamento revolucionário de 1922,
já, então, estendido a todo o Exército, e as facções que tentavam restaurar as oligarquias,
acompanhadas de seus métodos e comportamentos condenáveis.
Em geral, no Brasil, os jornais não se mantêm em posição de independência política, informando
ao público com imparcialidade sobre os acontecimentos. Os jornalistas, filiando-se a linhas políticas
governistas ou da oposição, desprezam notícias desfavoráveis às suas teses, enquanto divulgam com
exagerado destaque aquelas que as beneficiam no consenso nacional, tudo conforme o setor em que
politicamente se colocam. Em vista disso, por ser a imprensa responsável pela orientação da opinião
pública, forma-se em relação a muitos episódios um falso conceito sobre o que na realidade ocorreu.