IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

posteriores, um interesse velado do próprio presidente em ser dócil àquelas pressões. Não existia,
por conseguinte, sinceridade nas promessas presidenciais, feitas com tanta ênfase.


O general-de-brigada João Baptista de Oliveira Figueiredo já era, naquela data, o candidato em
potencial do general Ernesto Geisel à Presidência da República. Afirmam-no gregos e troianos que
participaram dessa esdrúxula campanha pela cadeira do Planalto.


Existia, no entanto, o "tabu" da hierarquia, que poderia ser o primeiro óbice às pretensões do
oficialismo vigente. O problema da hierarquia era capital, dada a importância que os militares lhe
atribuíam. A violação hierárquica tornava-se, na mentalidade militar, inaceitável. As circunstâncias
de os presidentes anteriores terem sido do mais alto posto do Exército fortaleciam este ponto de
vista.2


Era preciso, portanto, ao governo, vencer esse obstáculo inicial.

Nomeado ministro, em maio de 1974, as primeiras promoções de que participei foram as de 31
de julho daquele ano. O presidente, conforme elucidei num dos capítulos anteriores, examinava
comigo a lista de escolha, ouvindo a minha opinião; fazia, entretanto, questão de acentuar em todas as
oportunidades:



  • É uma prerrogativa minha a de escolher, promover e movimentar os generais.


Esta observação desnecessária, porque constante de lei, eu a debitava ao zelo com as suas
atribuições e ao seu temperamento centralizador. Ninguém, que eu soubesse, a contestara a partir de
1964 e todos os presidentes revolucionários a exerceram em sua plenitude.


Em junho e novembro de 1974 as promoções transcorreram normalmente, sendo respeitada a
lista de escolha composta pelo Alto Comando. A instalação do novo governo, as nomeações para
cargos públicos, as cotas obrigatórias e as limitações de idade propiciaram numerosas vagas.
Aconteceu porém um fato que constituiu indício - embora não percebido - de que o valor militar não
era decisivo no acesso.


O coronel engenheiro militar Argus Fagundes Ourique, durante uma conferência de cunho
exclusivamente técnico, fizera, em termos corretos, alusão a uma medida governamental que
considerara inócua. O ministro Orlando Geisel, presente, não gostara e mandara adverti-lo. Tempos
depois, em novembro daquele ano, o presidente Geisel, que fora informado do caso, quis ultrapassá-
lo, sob pretexto de que desconsiderara o ex-ministro, só não o fazendo em virtude dos
esclarecimentos que lhe prestei e de minha insistência em contrário.


O coronel Argus, oficial de inegáveis qualidades profissionais, esteve às portas da preterição
por ressentimentos pessoais, sem que se atendesse ao seu invulgar mérito militar.


O ano de 1975 seria, todavia, o das "vacas magras"; o que não deveria surpreender os meios
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