IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Um mês antes das promoções de março de 1976, o presidente, ao examinar comigo o Almanaque
do Exército, fez ligeiras apreciações sobre os papáveis ao posto de general-de-exército e emitiu
restrições às possibilidades de acesso de alguns deles.


O segundo da relação era o general Ariel Pacca da Fonseca, Comandante da 2á Região Militar,
em São Paulo. Ao ler o seu nome disse-me o presidente em tom de censura:



  • Está aí... Você quis deixá-lo na ativa e agora vai ser general-de-exército. É o dono da
    verdade... vai criar problemas e contestar o ministro...


Recordei-me das palavras do presidente em julho de 1974, quando lhe propusera a transferência
do general Ariel para São Paulo, evitando daquela maneira insistisse em seu pedido de transferência
para a reserva. Eram as mesmas ou quase as mesmas.


Repeti-lhe, como naquela época, que considerava o general Ariel um homem de muito caráter,
por quem tinha sincera admiração. Entretanto, como não era voltado para especulações maliciosas,
às vezes confiava demais naqueles que não mereciam crédito.


Continuando em suas apreciações, leu os nomes dos generais Bethlem e Tácito, pelos quais
demonstrava simpatia, e reteve-se no do general Adauto Bezerra de Araújo, acusando-o de tibieza no
comando da atual Brigada Pára-quedista, onde não refreava atos de indisciplina.


Discordei, imediatamente, dos conceitos expendidos pelo general Geisel. Conhecia o general
Adauto, desde capitão; era um homem corajoso e disciplinado. Além disso, eu vivera, como
Comandante da lá Região Militar, os acontecimentos de 1969, aos quais o presidente fazia
referência. As informações que, maldosamente, lhe davam, não traduziam a verdade. Narrei-lhe os
acontecimentos em minúcias.


O presidente ouviu-me calado, prosseguiu depois em suas considerações e mais dois generais
mereceram conceitos depreciativos.


Saí dessa audiência convencido que eram mínimas as probabilidades de os generais sobre os
quais o presidente emitira juízos pouco favoráveis ascenderem ao posto superior.


Mantive, no entanto, sobre o assunto, rigoroso sigilo, visto que considerava uma falta de
lealdade dar conhecimento aos interessados de conceitos formulados pelo presidente. Seria,
indubitavelmente, uma atitude típica de intrigante.


Não houve, contudo, preterições, e os três primeiros colocados na lista de escolha, entre eles o
general Ariel, foram elevados ao posto de general-de-exército.


Passaram-se os meses e, ao aproximar-se a data da nova promoção - 31 de julho - o presidente,
como era habitual, voltou a examinar os candidatos ao acesso. O general Adauto era o segundo
general-de-divisão, na ordem do Almanaque do Exército; estava, portanto, dentro das duas vagas

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