Redargüiu o general Ariel aproximadamente nos seguintes termos:
- O general Geisel é meu amigo, porquanto antes das promoções de março mandou o coronel
França a São Paulo, em caráter particular, avisar-me para não acreditar em ninguém que me fosse
dizer não gostar ele de mim. Recomendava- me não pedir reforma porque ele iria promover-me a
general-de-exército. Eu sou amigo dele, mas vou votar no Adauto.
Aquela declaração do general Ariel que "antes das promoções de março" fora procurado, em
caráter particular, pelo coronel Roberto França Domingues, parente afim do presidente, visto que é
casado com sua sobrinha, deixou-me estatelado.
Cerca de um mês antes daquelas promoções, realmente, debatera o presidente comigo as
possibilidades dos generais-de-divisão, tendo em vista acesso. Os nomes dos generais Ariel e
Adauto, focalizados, mereceram sérias restrições do próprio presidente, mas tudo, como já frisei,
ficou "intramuros". A lealdade e a ética obrigavam-me silenciar.
Teria o general Geisel duvidado de meu comportamento e temido que fosse ao general Ariel
contar o que ouvira?
Não poderia, logicamente, ser dada outra interpretação à viagem do então coronel França a São
Paulo.
O general Ariel é um homem digno e não mente; ainda atônito indaguei:
- O general Geisel fez o quê?
O general Ariel confirmou o que dissera em relação à ida a São Paulo do coronel França.
Visivelmente contrariado, pediu-me licença para retirar-se e foi cumprir a árdua missão.
Dos oficiais-generais atingidos pelo veto presidencial, o de brigada, que lamentavelmente sofria
de uma afecção ocular, foi o único que manteve uma atitude de excelsa dignidade. Ouviu a
comunicação transmitida pelo general Bethlem, retirouse e apresentou, a seguir, pedido de
transferência para a reserva do Exército. Fora integrante da gloriosa Força Expedicionária Brasileira
e fizera jus, nos combates da península itálica, à Cruz de Combate de 2' Classe. O brio e o valor
emergem sempre das situações difíceis para enaltecer, moralmente, os fortes de caráter. Cito-o,
nominalmente, como salutar exemplo - foi o general Luiz Dantas de Mendonça. Os outros dois
perderam-se nas baixezas dos pedidos e humilhações.
Dois dias não se haviam passado ainda quando espocou, em Brasília, a notícia de que o
presidente não promoveria os dois generais-de-divisão e que já os cientificara disso.
Quem praticara a inconfidência, deturpando-a solertemente ou permitindo fosse deturpada?
O ambiente de mexericos em que vivíamos na capital do país admitia qualquer hipótese; não