Que os ouça e atenda na medida do possível."
Esta era a minha maneira de pensar e agradou-me, por isso, a opinião presidencial. Entretanto, as
visitas de congressistas ao meu quartel-general transformavam-se em matéria de comentários e
explorações.
O deputado Synval Boaventura, da Arena de Minas Gerais, no tempo em que presidiu a
Comissão de Segurança Nacional do Congresso, pediu-me uma audiência, solicitando-me uma
exposição sobre a Amazônia e seus problemas. Homem simples e bem-intencionado, agradou-me
pelo interesse de melhor conhecer a área amazônica, sobre cujos aspectos interessantes conversamos
longamente. Seu sentimento democrata, longe dos extremismos, algo conservador, fortaleceu uma
simpatia recíproca. Atendi o seu pedido, atribuindo ao Chefe do Estado-Maior do Exército a missão
de mandar preparar a conferência, dias após realizada. Ao término da exposição, os congressistas, a
meu convite, almoçaram no gabinete ministerial.
Este fato corriqueiro, normal em qualquer administração em que os três poderes estejam em
harmonia, foi desvirtuado e apresentado pelos sagazes observadores do Planalto como indícios de
tendenciosas ligações políticas.
Em 25 de maio de 1977, o deputado Amaral Netto completava nove anos de exibições de
excelente programa de televisão, de cunho cívico e instrutivo, visto com prazer pelos militares.
Visando a comemorar tal acontecimento, ofereceu recepção no Hotel Nacional de Brasília. Procurou-
me, pessoalmente, para transmitir um convite, tendo insistido não faltasse.
Compareci à recepção, acompanhado de minha esposa e filha; lá estavam muitos ministros, mas a
massa dos visitantes era de políticos. Os deputados do Ceará, terra de meu pai, vários ligados a
parentes meus, cercaram-me para conversar; outros integraram-se ao grupo. 0 senador Luiz Viana,
presente, deu-nos o ensejo de falar do marechal Castelo Branco, de sua personalidade, da
austeridade que deu ao cargo presidencial e de sua fina ironia em criticar os fatos. Permaneci pouco
tempo na recepção, sendo dos primeiros que se retiraram.
No despacho com o presidente, na semana seguinte, depois do exame dos assuntos
administrativos, o general Geisel, em tom de censura, iniciou o diálogo:
- Você foi à festa do Amaral Netto?
- Fui. Não sou homem de festas, entretanto, resolvi ir.
- Mas não devia ter ido...
- Por quê? Não havia restrições que o impedissem. Os ministros foram. O Armando Falcão,
Henning, Araripe, Hugo e outros estavam lá. - Mas os políticos não cercaram o Henning nem o Araripe...