IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

assistir à expedição. Ao término do trabalho, próximo das cinco horas da tarde, voltou o oficial a
minha presença para participar que a distribuição tinha sido realizada, de conformidade com o
estabelecido.


Disse-lhe, então:


  • Você, Athos, vai levar agora uma cópia da ordem do dia ao palácio do Planalto e entregá-la ao
    general Hugo Abreu. Diga-lhe que é o exemplar destinado ao presidente e, também, que já fiz enviar
    o documento para todas as guarnições.


A minha determinação foi, rigorosamente, cumprida pelo meu assistente, que chegou ao palácio
próximo das seis horas da tarde, fazendo a entrega pessoalmente ao general Hugo Abreu. Isto se
passou, é bom precisar, no dia 22 de agosto de 1977. No dia seguinte, terça-feira 23, apresentei pela
manhã os generais recém-promovidos ao Presidente da República. Encerrada a cerimônia, disse-me
o general Geisel, encetando um diálogo:



  • Gostei muito de sua ordem do dia.

  • E... o senhor estava esperando outra coisa de mim?

  • Não! E você?

  • Também não, presidente!


Terminou assim a comentada e deturpada questão da ordem do dia de 25 de agosto de 1977.

Há um fato, todavia, que nunca consegui compreender ou, ao menos, encontrar para ele
explicação plausível. Trata-se da referência do general Hugo Abreu à entrega da ordem do dia, três
dias antes, pelo meu Chefe-de-Gabinete, general-de-divisão Bento José Bandeira de Mello, ao
próprio general Hugo Abreu, como se depreende da leitura do trecho abaixo, transcrito da página
121 de seu livro já mencionado:


A solução só foi conseguida graças a um entendimento meu com o general Bento Bandeira de
Mello, chefe-de-gabinete do ministro. Três dias antes da solenidade, conseguimos uma cópia da
ordem do dia que seria distribuída no dia seguinte. Mostrei-a ao presidente, que a leu e nada teve
contra o seu texto. Desculpe-me o general Frota essa pequena traição, pois ele até hoje não sabe
que mostramos o documento ao presidente antes da divulgação.

O general Hugo não era homem de mentir. O tenente-coronel Athos incapaz, por sua bela
formação moral, de contrariar uma determinação do ministro; garantiu-me - o que não precisava, pois
não me assaltaram dúvidas a este respeito - que não cedera o documento a ninguém, antes de que o
liberasse à difusão. O general Bento servia comigo praticamente há 13 anos; considerava-o meu
amigo, dedicando-lhe amizade fraternal - não entregaria, pois, a ordem do dia sem o meu
conhecimento, especialmente por dois sérios motivos: o primeiro deles era o de saber que isso iria

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