IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

  • Se o fizesse você estaria desmoralizado!


Estou de pleno acordo com o que relata o general Hugo Abreu, quanto à instigação do presidente
pelo "grupo da intriga" contra mim. Mas que homens poderiam chegar ao general Geisel para contar
estes mexericos?


A equipe com a qual normalmente se reunia era constituída do general Golbery, general
Figueiredo, general Hugo Abreu, coronel Wilberto Lima, coronel Toledo Camargo e o ex-capitão de
Cavalaria Heitor Aquino Ferreira. Estes homens tinham possibilidades de, diariamente, inocular no
general Ernesto Geisel os germes das intrigas a que, com tanta firmeza, alude o general Hugo Abreu e
sobre as quais não poderemos ser céticos, porquanto o general Hugo estava, embora por dever
funcional, no epicentro das ações. Os generais Golbery e Figueiredo, bem como o ex-capitão Aquino,
no entanto, seriam provavelmente os principais transmissores desses boatos e informações falsas,
nascidos e manipulados, na minha opinião, no próprio SNI.


O coronel Wilberto Lima, soldado de fracos méritos, que ascendeu à posição por inegáveis
influências de nepotismo, não era alcoviteiro desse nível.


Quanto ao coronel Camargo, que servira comigo no gabinete ministerial da gestão Lyra Tavares,
no passado era dotado de muito bom caráter, cuja integridade, acredito, não tenha sido erodida pela
ambição dos bordados de general.


No mesmo dia 9 de agosto, à noite, em minha residência, dei início à elaboração de um
documento, em forma de manifesto, para dirigir e fazer ler à tropa, no momento em que fosse
exonerado das funções de ministro, pois tinha a certeza de que o seria, quando menos esperasse. Dele
falarei oportunamente.


Após a visita do general Hugo, nada disse sobre a ordem do dia, contudo ouvi de amigo meu,
industrial no Rio de janeiro, que nos dias subseqüentes ao meu desagradável despacho com o
presidente noticiou-se, no Rio, que o general Geisel pedira-me esse documento e eu o entregara
passivamente.


Esta difusão já deveria estar preparada por elementos do Planalto, porém, apesar de minha
negativa, não pôde ser evitada.


Redigi a ordem do dia no sábado e domingo, dias 20 e 21 daquele mês, e, na manhã do dia 22 de
agosto, entreguei-a ao meu assistente, tenente-coronel Athos Marques de Amorim, para fins de
datilografia, recomendando-lhe, expressamente, que nenhuma cópia seria tirada do trabalho, nem
cedida a quem quer que fosse, antes da expedição geral efetuada. Nestas condições foi realizada a
tarefa. Li e reli o documento, procurando escoimá-lo de qualquer acidental falha que pudesse dar
margens a interpretações capciosas. Feitas as correções, determinei ao tenente-coronel que
expedisse, através de telex, a ordem do dia, iniciando a distribuição pelas guarnições mais afastadas.
Reiterei que nenhuma cópia seria dada do documento e que ele - tenente-coronel Athos - deveria

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