IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

s acontecimentos de 12 de outubro de 1977 tiveram suas raízes na ambição política que
dominava os homens do Planalto, geraram-se no ambiente de fervilhantes intrigas que ali pululavam e
vieram a público sob caluniosas imputações e mentirosos esclarecimentos.


Foi um quadro infamante - obra-prima dos tartufos do Planalto - confeccionado por mãos hábeis
no uso do pincel da falsidade. A fraqueza humana, comparsa do poder, guarneceu-o com a moldura
de ébano da deslealdade de alguns generais.


Sempre que procedemos à narrativa de um acontecimento com o objetivo de bem dissecá-lo,
devemos ter em mente que sua apreciação não deve ficar restrita ao espaço de tempo em que ocorre.
É óbvio, pois, que muitas ações realizadas antes e depois do evento, não raro em larga faixa de
tempo, devem ser citadas e comentadas, visando a colher dados consistentes que permitam dele uma
exata compreensão.


Assim pretendo tratar a "Farsa de Outubro'; denominação que dou, por mui adequada, ao
complexo de enigmáticos fatos, traições e lamentáveis demonstrações de indisciplina que, num
ambiente de hipocrisia e cinismo, enodoaram o dia 12 daquele mês, por ironia reservado às
comemorações do Dia da Criança e da Padroeira do Brasil.


O MENTOR DA FARSA


No preâmbulo de minha exoneração, muitos fatos podem ser computados como indícios
reveladores do propósito de afastar-me do cargo. Faltava lhes - aos homens do Planalto - um motivo
real que a justificasse. Todavia, por não conseguirem encontrá-lo em meu comportamento,
inventaram-no. A revista Veja, conhecida de todos por sua aproximação com o Chefe da Casa Civil
do governo Geisel, de quem recebe, segundo se diz, incondicional apoio, publicou, em 19 de março
de 1980, às páginas 23 e 24, o seguinte:


Eu também - De qualquer forma, e à revelia dos presidentes, o general Golbery, cujo rastro a
história política do Brasil já tem impresso, foi, é e será temido e detestado por ser misterioso. O
general Sylvio Frota, por exemplo, jamais deixará de ter certeza de que sua queda foi obra
acabada do Chefe do Gabinete Civil. Ele não sabe, contudo, que, durante pelo menos dois anos,
conseguiu derrotar bravamente seu rival. Chegou a tê-lo fora de combate quando, em 1975,
descolou as retinas dos dois olhos e teve que ser embarcado às pressas para uma clínica na
Espanha. No final de 1975 acreditava-se que o Chefe do Gabinete Civil não teria saúde para
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