IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1
ficar no posto. Até 1976 e durante toda a primeira metade de 1977, Golbery foi um desencantado
pela permanência de Frota no Ministério. Prova disso foi sua resposta a um comentário do
industrial Augusto Trajano de Azevedo Antunes, da Icomi. "Há muita coisa nesse governo com
que eu não concordo", disse-lhe Antunes. "Eu também não", respondeu Golbery.

Golbery queria a retirada do Ministro do Exército porque sentia nele um candidato à
Presidência - e tal candidatura seria uma reedição do que sucedera com o general Costa e Silva,
que "emparedou" o governo Castelo Branco em 1965-1966. Geisel, porém, sentia que mais
importante que demitir Frota era demiti-lo no momento oportuno. Talvez o general Frota jamais
tenha sabido, mas esteve a um passo da demissão no início de 1977. Salvou-o o senador Petrônio
Portella, que convenceu Geisel da desimportância da medida, pois, garantia Portella, o
Congresso era impermeável à candidatura. Em outubro, quando militares já se reuniam com
deputados "frotistas"; Portella assustou-se. Levou seus temores a Golbery e foi aconselhado a
narrar imediatamente o quadro ao presidente. Depois de conversar com Portella, Geisel decidiu
que chegara a hora.

No dia 12 de outubro de 1977, quando Frota foi demitido às 8 da manhã, Golbery demonstrou
que nada tem a ver com chuvas. Sabia da decisão há dez dias e só falara dela a um amigo militar,
o general Heitor Arnizaut de Mattos, comandante da estratégica guarnição do Planalto. No mais,
cumpriu a rotina...

Na ânsia de glorificar o general Golbery do Couto e Silva, o autor da reportagem,' desejando
convencer que o tortuoso procedimento do grupelho do Planalto era uma inteligente e habilidosa
manobra política, põe às claras as solertes intrigas forjadas nos corredores palacianos, confirmando,
de modo indireto, o que relata o general Hugo Abreu no seu livro aqui citado.


Montava-se, portanto, na própria sede do governo, uma capciosa trama para destituir o Ministro
do Exército. Os redatores atribuem ao general Golbery papel predominante nessa confabulação e
num desvario bajulatório chegam ao ridículo de cognominá-lo o "Mago da Abertura".


O general Hugo Abreu relata, na página 80 do seu livro, a preocupação do general Golbery com
o Ministro do Exército, intrigando-o com o presidente: "... pouco tempo após sua nomeação, já o
general Golbery alertava o presidente, inclusive na minha presença, sobre a necessidade de ter
cuidado para que o novo Ministro do Exército não viesse a se transformar em um novo Costa e
Silva."


Afirma, pois, em essência, o teor da reportagem da Veja.

DOIS EVENTOS SOCIAIS PRECEDENTES


O general Hugo Abreu, a quem muito considerava e que acreditava dispensar-me sincera amizade,
convidou-me, no início de outubro, para jantar com ele, em sua residência, "na próxima quinta-feira".
Pretendendo comparecer ao aniversário de meu amigo e consultor jurídico do Exército dr.

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