IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

A TRAIÇÃO DO GENERAL BETHLEM


O general Figueiredo deveria estar agindo em nome do general Geisel, participando de uma
atividade que, tudo leva a crer, não lhe era politicamente desagradável, considerando as vantagens a
auferir. Não me surpreenderia, portanto, que se comportasse dessa maneira.


No entanto, em relação ao general Bethlem, as coisas não poderiam ser vistas sob o mesmo
prisma. Fora meu Chefe-de-Gabinete; propusera-o ao presidente para o Comando Militar da
Amazônia, cargo de destaque ligado ao ministro; assumira com meu integral apoio o Comando do III
Exército e dava-me, a todos os momentos, demonstrações de consideração e estima. Finalmente, era
subordinado direto do ministro - de quem recebera inequívocas provas de amizade -, único que lhe
poderia dar ordens e com o qual mantinha constantes ligações.


Embora reconhecesse em Bethlem uma personalidade complacente, achava inadmissível que,
estraçalhando padrões de lealdade, ele conspirasse contra o general Sylvio Frota.


Por essa atitude mereceu de vários oficiais a pecha de traidor e, eu mesmo, no dia 12 de outubro,
incriminei-o de traição, sem que reagisse.


Depois desses acontecimentos, não posso precisar bem a data, mas julgo que foi por ocasião da
reunião do Alto Comando, em 29 de setembro, o general Be thlem pediu-me lhe concedesse, em
boletim, dez dias de dispensa de serviço para gozá-los em época que considerasse adequada. Disse-
lhe que não havia necessidade dessa publicação antecipada, porque bastaria uma participação sua no
momento oportuno. Em outubro o general Bethlem usou da autorização; viajou para São Paulo, onde
foi visto no Comando do II Exército. Em 11 de outubro encontrava-se na casa de sua filha, à rua
Andrade Neves, no bairro da Tijuca, no Rio de janeiro. Ali, recebeu o chamado de Geisel.


Datado de 5 de setembro de 1977, foi expedido pelo Comandante do III Exército, general-de-
exército Fernando Belfort Bethlem, um documento - Relatório Especial de Informações - que
analisava friamente a situação do país, do ponto de vista de Segurança Nacional, em particular a
penetração marxista em setores da vida administrativa. Sua distribuição, por via de regra, deveria
ser feita ao comando superior e aos escalões subordinados, podendo, a título de informação, ser
remetido aos comandos vizinhos do mesmo nível, caso lhes pudesse interessar.


O relatório do III Exército, no entanto, teve difusão ampla, o que revelava o propósito de vê-lo
conhecido de todo o Exército. Como ministro recebi-o e examinei-o à luz dos conhecimentos que
tinha do panorama brasileiro. Era um trabalho corajoso, escrito em linguagem vigorosa em que a
verdade surgia sem floreios de retórica, com rudeza militar. Apontava alguns nomes - do Senado e da
alta hierarquia militar - como participantes das pressões espúrias que se faziam sentir no governoz


Achei-o excelente, porquanto traduzia, exatamente, o meu julgamento da situação nacional, e
quando o general Bethlem chegou a Brasília para a reunião do Alto Comando, marcada para 29 de
setembro, tive a oportunidade de manifestarlhe minha opinião. Até esta data nenhuma notícia tivera

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