Ao determinar aos meus auxiliares de gabinete que procurassem ligação telefônica com
Bandeira, dois deles interpretaram a ordem e foram executá-la. Por esta razão, minutos após ter
encerrado o diálogo com o Comandante da 4á Divisão de Exército, um de meus assessores procurou-
me para dizer:
- Pronto, senhor ministro! Foi feita a ligação com o Comando da 4á Divisão de Exército, mas o
general Bandeira não estava, tendo ido ao palácio do governador, conversar com o dr. Aureliano. - Já falei com ele! Não há mais necessidade...
Ali, no palácio da Liberdade, na divulgação unânime da imprensa, foi render homenagem ao
presidente Geisel, ultrapassando seu comandante de Exército. Se assim procedeu, deu mostra de ser
um homem prático; cambalachou a abstrata consciência por concretas quatro estrelas, atributos mais
úteis e consistentes.
O TRISTE PAPEL DO GENERAL ARNIZAUT
Naquela manhã, ao chegar ao meu gabinete, soube que tropas do 43° Batalhão de Infantaria
Motorizado, localizado em Cristalina, tinham se deslocado durante a noite para Brasília. Não dei
crédito à informação, todavia, para esclarecer devidamente o assunto, mandei telefonar para o
general-de-divisão Heitor Furtado Arnizaut de Mattos, chamando-o ao Ministério.
Sobre o papel de Arnizaut nesses acontecimentos não pode mais haver dúvidas. Já fiz referências
às suas ligações diretas com o Chefe da Casa Militar, caracterizando-o como um indisciplinado,
entretanto faltava-me narrar, na oportunidade, que agora surge, outras "travessuras" deste general
ladino.
Na minha presença negou soubesse algo sobre o deslocamento de tropas em Brasília, ao correr
da noite anterior, declarando que somente o general-de-brigada Roberto França Domingues,
Comandante da 3á Brigada de Infantaria Motorizada, poderia dar uma informação precisa. Era uma
explicação inverossímil, visto que o Comando do Planalto não deveria estar alheio ao movimento de
tropas em sua área de comando.
Insinuou, a seguir, que seria interessante uma ligação telefônica com o Comandante da Brigada.
Recomendei-lhe que a fizesse, porquanto caberia a ele ligar-se com seu subordinado e informar-se.
Simulou uma ligação chamando o general França ao Ministério, e participou-me que o general viria
logo - sórdida mentira em face do que se lê no livro de Hugo Abreu, textualmente, abaixo transcrito
da página 134:
O General Arnizaut de Mattos, Comandante Militar do Planalto, foi a única autoridade militar a
tomar conhecimento do problema no dia 11. Naquela tarde, chamei-o ao palácio do Planalto e
conversei com ele sobre a decisão do presidente e combinamos algumas providências a serem