A forma de fazê-lo é que foi insultuosa; no entanto, muito mais ao Ministro do Exército do que
propriamente ao general Sylvio Frota.
A instituição, realmente, foi gravemente atingida naquele dia. Tirava-se um Ministro do Exército
sob falsos motivos, com o objetivo de beneficiar um grupelho político, que queria perpetuar-se no
poder. Mas os generais do Alto Comando não pensavam assim e não seria o ministro demitido que
tomaria tal iniciativa para que lhe atribuíssem propósitos golpistas e se transformasse,
historicamente, num caudilho.
Além de tudo, seria inevitável o derramamento de sangue em combates fratricidas, o que me
repugnava ocorresse por motivo de tão duvidosa exigência moral.
A guarnição de Brasília era-me fiel e cumpriria ordens - quaisquer que fossem - mui
especialmente sob o comando de Dieguez. Apenas uma unidade, o Regimento de Cavalaria de
Guardas, cujo tenente-coronel comandante - apaixonado incensador do general Figueiredo, como o
comprovou publicamente em ordem do dia -, penduleava. Não chegaria a proporcionar embaraços
visto que um coronel de Cavalaria - dos melhores - voluntariamente se apresentara para assumir,
mediante ordem, aquele comando.
Na última vez em que visitei, em despedida, o Centro de Informações do Exército, opus-me
firmemente a que um grupo de, aproximadamente, 60 oficiais - muito bem armados - desse um "golpe
de mão" no palácio do Planalto. Considerando a reconhecida coragem de seus integrantes e a sua
experiência em ações deste tipo, não obstante as prováveis perdas de vida, não poderia ser duvidoso
o êxito da operação, mui especialmente se atendermos à circunstância de um general estar disposto a
comandá-la. Foi um momento crucial. Houve quem chorasse, solicitando a liberação do grupo para o
assalto, justificando que não se tratava do general Sylvio Frota, mas de impedir que a Revolução de
1964 morresse naquele dia. Em virtude disso não viam como válidos os meus escrúpulos.
Consegui evitar ocorresse o pretendido ataque ao palácio, do que não me penitencio.
Com eventuais e ligeiras reações, pouco prováveis, dominaria facilmente Brasília e, com a posse
da capital, controlando as comunicações, choveriam, como sempre, as adesões. Todavia, forte
motivo de ordem íntima - não queria estender à instituição um caso pessoal - aconselhava-me à
transmissão da pasta. A interpretação de que o presidente tinha vilipendiado o Exército era geral,
porém, eu, que fora o instrumento deste vilipêndio, não poderia tomar a iniciativa de um revide.
Constituía dever dos generais-de-exército, caso pensassem da mesma maneira, realizá-lo. Se não o
fizeram foi porque nada de anormal viram no ocorrido.
A DEFECÇÃO DOS GENERAIS-DE-EXÉRCITO
Considerando a convocação dos generais-de-exército, determinei fossem automóveis buscá-los no
aeroporto, como de praxe. Um oficial acompanhava cada carro, com a missão de dizer ao general