IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

passagem para a reserva.



  • O Comandante do 1 Exército, general José Pinto de Araújo Rabello, ao desembarcar no Rio,
    não perdeu tempo, dirigindo-se diretamente ao seu quartel-general, onde marcara reunião com
    oficiais de seu comando. Aparentando grande indignação, despejou sobre o ex-ministro Frota
    carradas de impropérios, acusando-o de traidor e de ter dado dinheiro do Exército ao Clube Militar,
    quando não o podia fazer. Estas informações tive-as, logo após a minha demissão, quando fui
    visitado por oficiais que assistiram à reunião. Naqueles momentos de excitação, os freios da
    prudência não eram acionados e as inconfidências tornavam-se comuns. Posteriormente tentei
    esclarecer o procedimento do general Pinto, no entanto deparei-me sempre com respostas evasivas,
    mas que não desmentiam os fatos admitidos. Sou, por tudo isso, obrigado a esclarecer as pretensas
    imputações.


Consta ter dito o general Pinto que eu era um traidor.

Traidor foi ele - com todas as letras e nódoas morais que o termo tem e exprime - que desde
segunda-feira dia 10 de outubro tomara conhecimento, dado pelo próprio general Geisel, quando
esteve no Rio de janeiro, de que eu seria demitido, "na próxima quarta-feira". O que poderia ter
alegado o presidente para explicar a exoneração?


Provavelmente o que espalharam depois - que eu, envolvido em política, tramava um golpe
contra o governo.


Entretanto, ninguém melhor do que os comandantes de Exército estaria em condições de afirmar
o contrário, porquanto jamais ouviram de mim uma palavra que pudesse, sequer, insinuar tais
comportamentos. Não sei se o fez, contudo, nunca ouvi falar que o tivesse feito. Além disto, sendo
meu subordinado hierárquico direto, tinha a obrigação moral e o dever militar de participar-me o
fato, a não ser que estivesse integrado na confabulação para demitir o ministro, suposição que os
acontecimentos posteriores confirmaram à saciedade.


Mantinha com o general José Pinto muito boas relações de amizade; apoiei sua candidatura à
presidência do Clube Militar e indiquei seu nome para o Comando da 1á Divisão de Exército - cargo
para o qual não foi designado por ter o general Geisel preferido o general Walter Pires. Atendi-o em
suas solicitações, nos limites das possibilidades, e obtive do Presidente da República, por verba
adequada, um auxílio à sua administração naquela agremiação, visando a melhorar o atendimento dos
militares e suas famílias.


Não posso, portanto, entender por que procedeu tão indignamente com o ministro.

Aqueles que o conheciam, de jornadas passadas, disseram-me, após o 12 de outubro, ser o
general José Pinto um homem mais debruçado sobre os seus interesses pessoais do que fiel
cumpridor dos preceitos da hierarquia castrense. Argumentavam, justificando a afirmativa, com o
exemplo de ter aceitado, quando coronel, ser Chefe-de-Gabinete (ou cargo equivalente) sob

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