IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

pudesse dizer algo do que se fazia no inquérito, procurando apurar a sua real participação no conluio
dos criminosos.


Preocupavam-se os oficiais com a instituição e ninguém - salvo seus amigos - perdoava ao
general o seu comportamento, enodoando o nome do Exército no qual, na opinião quase unânime, não
tinha mais condições de continuar como chefe.


Conhecendo o inquérito em suas ínfimas particularidades - inclusive o que constava do arquivo
particular de Gregório Fortunato - calava-me ao ouvi-los, mas, no íntimo dava-lhes inteira razão.


Triste, sórdido sobre todos os aspectos, foi esse período da vida nacional que o próprio
presidente Vargas bem definiu na resposta dada ao coronel-aviador João Adil, quando este colocou-
o a par dos fatos apurados: "Tenho a impressão de me encontrar sobre um mar de lama."


Essas épocas de corrupção e desfibramento moral são perniciosas às nações, porque propiciam à
juventude condenáveis exemplos.


Os governos que premiam a subserviência, compensando a omissão com distinções honoríficas,
promoções e cargos rendosos, que agasalham corruptos úteis aos seus objetivos políticos ou
administrativos, julgando-se onipotentes e oniscientes, bafejam ditadura, e corroem os puros
sentimentos das gerações novas, tornando-as egoístas e utilitaristas.


Tais governos não merecem nem podem receber o beneplácito das Forças Armadas, que têm o
idealismo a nortear suas ações. Estão fadados a cair, em maior ou menor tempo. Foi exatamente o
que aconteceu ao governo de Getúlio Vargas.


O relatório do inquérito, em sua conclusão, classificou o assassínio da rua Tonelero como
"crime militar", sendo por isso o processo encaminhado ao Superior Tribunal Militar.


Os acontecimentos de agosto de 1954 agravaram a situação política, tornando irreconciliáveis as
duas facções contrárias existentes. Na marcha do tempo, o getulismo, metamorfoseado em populismo,
sindicalismo, janguismo e, por incrível que se admita, no pseudolegalismo do general Henrique Lott,
defrontou-se com o antigetulismo, acerado no combate a todas essas caracterizações mistificadoras
de uma corrente política de homens ávidos do poder que contou em várias ocasiões - voluntária ou
involuntariamente - com o auxílio dos solertes e sinuosos grupos de esquerda.


As gerações militares que convictamente se empenharam nesses dois campos guardaram por
decênios restrições recíprocas de conceito, seqüelas inevitáveis numa classe que dava mais valor
aos ideais do que aos interesses materiais. Havia, infelizmente, aqueles que sempre se ajustavam às
novas situações, por pensar melhor, como diziam, mas que na realidade, pouco firmes de atitudes,
"se bandeavam por qualquer cuia de chimarrão", na sábia simplicidade do gaúcho de fronteira, ao
definir incuráveis adesistas. E... ainda os há.

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