IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

mandado eliminar o jornalista Lacerda. Desceu a minúcias, entre elas a de o general Mendes de
Morais, certa vez em que viajou de Petrópolis ao Rio, sentando ao seu lado, ter-lhe dito que ele,
Gregório, era o Ministro da Defesa de Getúlio e por isso cabia-lhe tomar essa providência.


O general Mendes de Morais refutou prontamente todas as acusações, colocando o encarregado
do inquérito na única e desagradável alternativa, na busca da verdade, de acarear os depoentes.


Mas, o ato de acareação - de um general do Exército com um criminoso - dando margem à
linguagem áspera e freqüentemente insultuosa que esses confrontos desencadeiam, repugnava ao
Chefe do Estado-Maior do Exército, que nele via uma pública humilhação à farda e às insígnias de
nossa instituição.


Era o general Alvaro Fiuza de Castro um militar da velha estirpe, hoje em acelerada extinção, de
homens que faziam da profissão um sacerdócio, vivido com euforia na abnegação de seu exercício.
Chefe de imenso prestígio no Exército, austero e inatacável sob qualquer ângulo moral, espiritual ou
profissional que se investigasse, não concordava em proceder à acareação, embora os promotores a
considerassem indispensável ao completo esclarecimento do delito.


Ninguém o demoveu desta opinião e o ministro Lott, para solucionar a embaraçosa situação,
solicitou à Polícia Civil que a procedesse. 0 dr. Sylvio Terra, delegado indicado para o ato, efetuou-
o em salão do Ministério da Guerra, cedido a seu pedido, visando a preservar a dignidade da
posição militar do general Mendes de Morais.


O ato público teve entre seus assistentes o coronel-aviador João Adil e mais dois oficiais
superiores da Aeronáutica.


Em uma longa mesa, em cujas cabeceiras estavam os dois confrontantes, tomaram lugar as
autoridades civis, generais e advogados. Gregório Fortunato manteve suas acusações, lançando-as
com veemência à face do general Mendes de Morais, que visivelmente deprimido limitava-se em
discordar.


A ocorrência era lastimável para nós militares que a assistíamos, particularmente, quando o
petulante homem aludia à patente do chefe militar com inegável ironia. Assim, em suas palavras
finais, disse:



  • Eu até admirava o senhor como administrador... Eu pensei que o senhor como general fosse
    "agüentar a mão'...


O general Mendes de Morais, sem modificar sua postura, apenas respondeu:


  • Uma indignidade... uma indignidade...


Como escrivão, achava-me em posição bastante ingrata, porquanto nos contatos diários com
meus colegas recebia violenta reação contra o procedimento do general Mendes de Morais, sem que

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