A especulação aconselha, também, lembrar que certos erros são "falhas de aparência";
intencionalmente colocadas, visando ao despistamento; não afetam, pois, o sentido do documento.
São falhas de aparência e não de essência.
O uso de um "Código inexistente no Ministério das Relações Exteriores" é argumento por demais
frívolo para merecer demorada análise. As Forças Armadas e o Serviço Nacional de Informações
têm códigos específicos para certas comunicações e atividades, logicamente, por imperativos da
segurança. Quando estive como Chefede-Gabinete do ministro Lyra Tavares - algumas vezes citado
na correspondência como Diretor de Gabinete -, os códigos para ligações diretas entre o ministro e
os comandantes de Exército não eram os mesmos. Outros existiam no CIE privativos de setores
diferentes.
Como vemos, foi precipitada a argumentação do jornalista nesses dois aspectos. Esqueceu-se
ele, ainda, que numerosas embaixadas brasileiras têm adidos militares que se ligam diretamente com
suas Forças - no Exército normalmente através do Estado-Maior do Exército - por códigos especiais.
O rumoroso caso do "Relatório Saraiva" é um típico exemplo destas ligações.
Acredita o jornalista que o Exército vá ter a ingenuidade de mostrar este tipo de código ao
Ministério das Relações Exteriores? E o SNI, que os tem variadíssimos, falo-ia?
Quanto ao terceiro argumento, "uso do telex do gabinete do Ministro do Exército"; que é
capciosamente complementado "na época o general Sylvio Frota'; além de tênue, é malicioso e
extremamente irresponsável.
Marca, acima de tudo, uma incoerência estarrecedora porque, enquanto admite como prova
irrefutável de falsificação a troca do título de chefe pelo de diretor - o que seria possível, como já
acentuei, pelo caráter de pluralidade da sigla - procura confundir "telex da Central de Comunicações
do Exército", constante dos dois documentos publicados, com "telex do gabinete do Ministro do
Exército", coisas completamente distintas.
O Centro de Comunicações do Exército está situado no 40 pavimento do Bloco H do Quartel-
General do Exército, conhecido como "Forte Apache", ao passo que o gabinete do Ministro do
Exército ocupa o 40 pavimento do Bloco A. Além disto, aquele Centro não está diretamente
subordinado ao ministro e sim ao Chefe do Departamento de Engenharia e Comunicações, através de
sua Diretoria de Comunicações.
Em nenhum dos dois telex há referência ao "telex do gabinete do Ministro". Por que então citá-lo,
acompanhando-o - não nos esqueçamos - do adendo "na época o general Sylvio Frota"?
A primeira conseqüência que senti, dessas publicações, traduziu-se numa saraivada de perguntas
dos jornalistas que me telefonaram, insistentemente, naquele domingo e dias da semana subseqüente.
Queriam saber se era verdade o que se publicava; por que fora transmitido o telex pelo gabinete