IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

A catequese de militares e políticos, com bastante êxito, ter-se-ia processado, segundo
informações colhidas nos bastidores políticos e divulgadas, insistentemente, pela imprensa, na
fórmula habitual dos "governos fortes'; daqueles que sabem querer. As promessas de empregos eram
as primeiras insinuações; filhos e outros parentes dos pretendidos adeptos, que compreendiam a
patriótica exigência de dar seu apoio ao governo, foram beneficiados com lugares de polpudas
remunerações. Falam os jornais, quiçá por exagero, que hábeis políticos asseguraram o futuro de
suas famílias naquela oportunidade. Na hipótese de resistência à adesão, surgiam as ameaças, de
início veladas, que se concretizavam persistindo a recusa.


O governo formou, se assim procedeu, um sólido contingente de partidários "idealistas"; desses
que, no passado, o sarcasmo do inesquecível escritor e humorista Bastos Tigre descreveu como
"homens de muito valor que não se adquirem com pouco dinheiro".


A época era, e continua sendo, de afagos aos prosélitos da situação e pressões diversas sobre os
que dela divergiam, apesar dos constantes protestos em contrário dos governantes. Ajustava-se bem à
expressão ironicamente empregada na vida castrense para definir ambientes semelhantes - "aos
amigos, tudo, aos indiferentes, a Lei, aos inimigos, nem justiça".


A candidatura do general-de-exército Euler Bentes Monteiro à Presidência da República veio
abalar as previsões de vitória certa dos palacianos. Apoiada pelo Movimento Democrático
Brasileiro e contando com a ousada e pertinaz colaboração de Hugo Abreu, causou arrepios e
temores nos partidários do general Figueiredo, cujos lugares no futuro e próximo governo já tinham
como assegurados.


Homem inteligente, de muito bom caráter, inatacável honestidade e vida particular exemplar,
excelente administrador, o general Euler não tinha, todavia, a simpatia da corrente revolucionária de
1964, movimento ao qual, praticamente, não aderiu.


Além disto, medidas peculiares à reorganização do Exército tinham proporcionado, naquela
ocasião, aos oficiais da Arma de Engenharia, um acesso mais rápido. Tal beneficio, apesar de
rigorosamente legal, provocava descontentamento no meio de oficiais das outras Armas. Julgavam-se
preteridos e injustiçados com a promoção de colegas mais modernos. É bem compreensível este
estado de ânimo na instituição militar em que o mando, na igualdade de posto, é privilégio do mais
antigo. O general Euler, que ultrapassara na promoção a coronel oficiais de cinco turmas anteriores à
sua, sofreu fortes reflexos dessa reação.


Atribuíam-lhe, também, idéias políticas próximas da chamada esquerda ideológica.

Nesse conjunto de circunstâncias não tinha, portanto, Euler respaldo militar apreciável para sua
candidatura, que prestou ainda ao governo o inesperado serviço de legitimar a do general Figueiredo,
pela presença da oposição na escolha do novo presidente.


O mesmo poderíamos todos nós dizer das corajosas campanhas cívicas do ilustre mineiro
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