utra visita muito interessante foi a que me fez o general Hugo Abreu em 15 de julho de 1978.
O general Hugo Abreu fora meu amigo durante muitos anos, pensávamos de modo idêntico quanto à
participação do Exército na política - que repelíamos - e não aceitávamos a ingerência totalitarista
nos assuntos nacionais. Foi meu comandado no 1 Exército, confirmando sempre as qualidades de
excelente chefe e de perfeito executante, ao tempo que comandou a extinta Divisão Aero-Terrestre.
Em Brasília - eu na Chefia do Estado-Maior do Exército e no cargo de ministro e ele na Chefia da
Casa Militar - fortalecemos essa amizade com visitas familiares recíprocas, em que trocávamos
idéias sobre a situação nacional.
Preocupava-nos muito o Exército, carente de tudo, anestesiado na apatia, vivendo de migalhas
orçamentárias, sem meios para reacender o entusiasmo profissional, que víamos esmorecer no
sedentarismo dos quartéis por falta de exercícios especificamente militares, esquecido da Mística do
engrandecimento da Pátria, esmaecida por força de ambições e interesses pessoais.
Falou-me muitas vezes Hugo Abreu do ambiente palaciano, descrevendo cenas e contando fatos -
narrados posteriormente em seus dois livros - que não deixavam dúvidas sobre as intenções
continuístas e o mau caráter dos assessores do presidente, que manipulavam o poder como cosa
nostra, à semelhança de mafiosos. Tinha profundo respeito pelo presidente Geisel, que na minha
opinião o dominava. Embora não gostasse do general João Baptista de Oliveira Figueiredo, fato por
demais público, era ao general Golbery do Couto e Silva que dedicava os piores adjetivos.
Considerava-o meu amigo, impressão que se consolidou definitivamente quando me mandou
avisar, meses antes da Farsa de Outubro, que, se o presidente Geisel tomasse a decisão de exonerar-
me por motivo político, ele, Hugo Abreu, demitir-se-ia também, de imediato.
Até a manhã do dia 12 de outubro de 1977 - é bom repisar nas minúcias para não esquecê-las -
confiava absolutamente em Hugo Abreu. Recebi, pois, seu telefonema, às oito horas daquele dia, na
forma de comunicação leal e, ainda, tive a estúpida ingenuidade de perguntar-lhe se sabia o motivo
da inopinada convocação. A resposta foi a de um traidor, macia e pérfida:
- Desconheço, ministro, a razão deste chamado...
Iniciava-se a execução, em Brasília, do complot Geisel.