A síntese dialogal abaixo reproduz essa entrevista:
Hugo Abreu: - A candidatura do Euler está vitoriosa politicamente, só dependendo da
aquiescência dos dissidentes da Arena, ligados a Magalhães Pinto. É, ainda, um obstáculo, contudo
os homens da Frente Nacional de Redemocratização julgam-no de solução não muito difícil. O
Movimento Democrático Brasileiro (MDB) já assentou o seu apoio a Euler. O governo conhece as
possibilidades de Euler vencer, hoje aumentadas com a atitude da Arena paulista, vetando o seu
candidato ao governo de São Paulo. Já examina a eleição de uma Assembléia Constituinte,
objetivando estabelecer novas bases e normas para a questão eleitoral. Penso, deste modo, em
eleições diretas etc. etc... Modificaria, assim, as regras do jogo, dando um verdadeiro golpe de
Estado. Afirmam alguns - ditos bem informados - que Figueiredo já admite adiar ou desistir de sua
candidatura em favor da eleição de uma Constituinte. Quero alertar o Frota para tudo isso...
Fiuza de Castro: - Posso assegurar que o general Frota repelirá essa violência...
Hugo Abreu: - Mantive um encontro com um senador do MDB, da ala chamada "autêntica".
Afirmei ser indispensável, inicialmente, a união de todos para vencer e depois, então, discutirem as
divergências. O MDB aceita as condições da Frente e ambas as organizações estão estabelecendo um
programa de convergências. Considerando esse ambiente, o general Carlos de Meira Mattos - amigo
do general Figueiredo - procurou-me, ontem, para sugerir uma entrevista com o candidato oficial.
Perguntou-me se tinha razões pessoais contra Figueiredo. Respondi que não as possuía, mas que o
achava um lacaio do Golbery, ao qual está ligado.
Fiuza de Castro: - Causou impressão negativa no Exército a sua aparição e do Euler, em
fotografias de jornais, juntamente com Francisco Pinto e outros políticos contra-revolucionários...
Hugo Abreu: - O general Euler não teve culpa do que aconteceu, pois tudo resultou de um ardil
dos autênticos ao qual não pôde furtar-se. Asseguro que contamos também com o general Tourinho;
entretanto, o general Reynaldo nos abandonou, o que confirma as restrições que o Frota fazia à sua
correção de procedimento.
Fiuza de Castro: - Em vista disso não será de surpreender se o Tourinho seguir o exemplo de
Reynaldo, porquanto são cunhados...
Hugo Abreu: - Peço dizer ao general Frota que não irei à sua casa, agora, por estar sendo
seguido e muito vigiado. Não quero dar motivos ao governo para punir-me, no entanto, logo que
possa irei visitá-lo.
Fiuza de Castro: - Quero, general Hugo, transmitir-lhe o pensamento do general Frota, visto que
o conheço bem e estou autorizado a expendê-lo. O general Frota não se unirá, de modo algum, aos
elementos da Frente, porque defende princípios absolutamente contrários aos deles. Está, como
sempre esteve, com a Revolução de 1964 e o Exército. Lastima bastante que, em 120 milhões de
brasileiros, nós tenhamos de decidir entre dois homens que violentam os ideais revolucionários: um